Apresentação, performance artística e fala dos convidados deram o tom da programação intensa da Mostra que traz o cinema brasileiro em diálogo com a preservação, história e educação.

A cerimônia oficial de abertura da 14ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, na quinta-feira, 6 de junho, lotou o Cine Vila Rica em celebração ao audiovisual como patrimônio, história e educação. A performance audiovisual, comanda por Grazi Medrado e Chico de Paula e apresentada pela atriz Rejane Faria, valorizou a resistência de povos brasileiros dos mais distintos em prol das lutas por seus territórios e seus direitos individuais, apresentando a temática deste ano, “Territórios regionais, inquietações históricas”

Nomes como Ailton Krenak e Sônia Guajajara, importantes lideranças indígenas, apareceram em gravações na tela. No palco, a música cantada por Adrianna e Marcelo Ricardo e as narrativas de Marcelino Xibil deram o tom de um evento que, nos próximos dias, vai apontar suas atenções para o cinema como expressão artística de união e compartilhamento de experiências. 

Homenageado desta edição, o diretor baiano Edgard Navarro recebeu o Troféu Vila Rica das mãos do secretário de Cultura de Belo Horizonte, Juca Ferreira, seu conterrâneo e amigo de juventude. “Eu conheci o Edgard muito antes de ver os filmes dele, quando a gente almoçava no mesmo restaurante vegano em Salvador. Era um lugar de comida macrobiótica que parecia um centro cultural”, relembrou Ferreira, arrancando risos da plateia. “E aí vi ‘O Rei do Cagaço’ (filme de Edgard que está na programação da CineOP), que é inquietante e perturba o público. O Edgard é essa combinação de respeito e deboche”. 

Emocionado e irreverente ao receber o tributo à sua obra no ano em que completa sete décadas de vida, Navarro contou várias histórias da juventude na Bahia, inclusive do medo que sentia de ser torturado pela ditadura militar por conta de seu comportamento anárquico e iconoclasta. “Eu já era um suicida e queria enfrentar a autoridade, ficar na frente da baioneta e mandar me furarem”, disse. 

O cineasta – que terá vários de seus trabalhos exibidos na programação, inclusive o mais recente longa-metragem, “Abaixo a Gravidade” – se disse temeroso do atual momento político do Brasil, mas exaltou a força da cultura e dos trabalhadores da arte como caminhos possíveis para se atravessar a conjuntura recente. “Tô botando fé no futuro, a gente é mais forte que essa coisa que está aí no poder”, finalizou, antes de ser ovacionado pela plateia e dançar ao som de “Odara” no chão do Cine Vila Rica. Em seguida, foram projetados o curta “Exposed” (1978) e o média “Superoutro” (1989), ambos do cineasta.