Programação em homenagem à atriz e diretora tem início na sexta, 24 de março, com a exibição do clássico “Copacabana Mon Amour”, de Rogério Sganzela

Helena Ignez celebra sua trajetória intensa de mais de 50 anos de produção nos vários campos das artes cênicas e cinematográficas. Em um momento no qual tanto se discute o espaço social da mulher, inclusive no cinema, Helena Ignez se impõe como memória e como presente. Memória desde o fim dos anos 50, no teatro e no cinema, mais adiante também como diretora e produtora, sem nunca deixar de ser atriz.

 A 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes escolheu Helena Ignez não apenas como uma das homenageadas do evento, mas também como nome de um prêmio que passou a ser entregue, a partir de 2017, a uma mulher em alguma das funções da criação cinematográfica em algum longa ou curta que será exibido nas mostras competitivas (Mostra Aurora e Mostra Foco). Homenagem e prêmio são emblemas, mais que reconhecimento, porque, a essa altura da vida e da filmografia, Helena dispensa reconhecimentos. Precisa apenas – sempre – de espaço. Espaço para persistir e existir com sua liberdade indomável.

 A Mostra Tiradentes | SP 2017, em sua quinta edição, será realizada entre os dias 23 e 29 de março, no CineSesc (Rua Augusta, 2075 - Cerqueira César), traz um recorte da edição mineira, com a exibição de 36 filmes - 21 longas e 15 curtas, grande parte deles inéditos na cidade, e estende a homenagem a diretora, produtora e atriz, Helena Ignez, com a realização de uma Mostra Retrospectiva apresentando filmes marcantes, ousados e inventivos da musa do Cinema Novo.

 Aos 74 anos, Helena Ignez é memória desde o fim dos anos 1950, no teatro e no cinema. Primeiro, como atriz, estreando nas telas no curta O Pátio (1959), de Glauber Rocha, explodindo os olhares e as sensibilidades em O Padre e a Moça (1965), de Joaquim Pedro de Andrade, e se firmando como atriz-autora em filmes de Rogério Sganzerla e Julio Bressane. A partir de 2007, iniciou o caminho também de diretora, numa trajetória ainda em construção e cada vez mais ousada e inventiva que já soma seis filmes. Seu corpo circulante de energia mística, mítica e libidinal, não importa com qual idade, sempre em estado de performance, marcou gerações de espectadores, realizadores, atores e atrizes.

 Serão exibidos cinco de seus trabalhos a partir de 24 de março. Às 15h, acontece a sessão do clássico “Copacabana MonAmour” (1970), de Rogério Sganzela. No dia 27, segunda, no mesmo horário, será a vez de “Ralé”(2015),seu mais recente trabalho como diretora. No dia 28, terça, serão exibidos Canção de Baal” (2008), de Helena Ignez;e “Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha” (2010),de Ícaro C. Martins e Helena Ignez, às 15h e às 17h, respectivamente. A Mulher de Todos” (1969), de Rogério Sganzerla, encerra esta parte da programação no dia 29, às 15h.

 “O que Helena Ignez constrói nesse filme [A mulher de todos] é algo inédito no cinema brasileiro até então. É uma força física definida apenas por seus próprios movimentos, só por eles, e não por um significado oculto que estaria por trás da lógica do personagem. Há uma autonomia do corpo que demarca todo o resto, e que faz do gesto seu centro, uma modernidade do movimento corporal, em especial o feminino, impensável dentro do que se fazia até então em cinema no país, seja pelo viés mais comercial, seja pela caracterização do Cinema Novo, sempre sociológica, ou, em todo caso, plena de metáforas a travar o despojamento da ação bruta, da pura presença”, analisa o jornalista, pesquisador e crítico de cinema e música, Ruy Gardnier.

 Helena Ignez estará presente, ainda, no debate “Cinema em Reação, Cinema em Reinvenção”, com a participação do curador, professor e crítico de cinema Cleber Eduardo (SP), da pesquisadora e curadora da Mostra de Cinema de Tiradentes Lila Foster (SP) e mediação da crítica de cinema Flávia Guerra (SP). O encontro acontece na terça, 28 de março, às 19h30.

 A edição paulista retoma o tema eleito para a 20ª edição em Minas, “Cinema em Reação, Cinema em Reinvenção”, e amplia o debate com novas vozes.  A abertura, no dia 23, às 20h tem entrada gratuita. Os ingressos poderão ser retirados com uma hora de antecedência no Cinesesc. As demais sessões terão ingressos a preços populares: R$ 3,50 para associados Sesc (com apresentação da carteirinha plena), R$ 6 (meia-entrada) e R$ 12 (inteira).