Encontro tem mediação de Cléber Eduardo, idealizador da sessão que se tornou referência da produção independente no país; filmes continuam na noite de sexta

Chegando em seus últimos dias, a 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes realiza na quinta-feira um balanço da Mostra Aurora, principal vitrine do cinema independente brasileiro e que acontece no evento desde 2008. Idealizado e com curadoria de Cléber Eduardo, o recorte exibe anualmente sete filmes de realizadores ainda em começo de carreira na direção de longas-metragens. Todos concorrem ao prêmio do Júri da Crítica.

 No bate-papo “Mostra Aurora Dez Anos: Percurso em Reflexão”, que começa às 15h no Cine Teatro Sesi, Cléber estará presente ao lado de diversos cineastas que ganharam a Aurora na última década: Allan Ribeiro (Mais do que Eu Possa me Reconhecer, 2015), Adirley Queirós (A Cidade É uma Só?, 2012), Pedro Diógenes (Estrada para Ythaca, 2010), Thiago B. Mendonça (Jovens Infelizes ou um homem que grita não é um urso que dança, 2016) e Tiago Mata Machado (Os Residentes, 2011).

 Mais cedo, no mesmo Cine Teatro Sesi, três mesas da série Encontros com a Crítica, Diretor e Público: bate-papo sobre “Lamparina da Aurora”, com Luiz Carlos Merten; debate sobre “Sem Raiz”, com a professora Dácia Ibiapina; e conversa em torno da série 3 da Mostra Foco, com a presença dos realizadores.

A programação de filmes inicia às 16h30 no Cine Tenda com a sessão de curtas da Mostra Panorama. Em seguida, sessão tripla de longas-metragens: às 18h, “Modo de Produção”, na Mostra Olhos Livres; em seguida, “Histórias que Nosso Cinema (não) Contava”, às 20h, na Aurora; e por fim “Subybaya”, às 22h30, também na Aurora. Já no Cine BNDES na Praça, o documentário “O Que nos Olha” começa às 21h, seguido de bate-papo com a diretora Ana Johann.

A noite termina com a apresentação da banda mineira Djalma Não Entende de Política, define sua setlist como “hard sambas progressivos pós-wagnerianos”, o que promete um show cheio de surpresas e emoções.

MERCADO INDEPENDENTE

Na terça-feira, o encontro da temática central da Mostra “Cinema em reação, cinema em reinvenção: Circulação e visibilidade” reuniu um grupo de profissionais do audiovisual, entre pesquisadores, críticos e distribuidores, para compartilhar experiências e ideias sobre as dificuldades de inserção no mercado da produção independente do país. O professor André Gatti, logo na primeira intervenção, deu o norte de todo o restante da conversa: as limitações se devem essencialmente pelos interesses e deslocamento do capital na cadeia de realização e produção.

“Todo mundo diz que as novas mídias se moveram para a internet. Não é só isso. Foi o capital que migrou para a internet, e onde o capital está, os produtos também vão estar”, disse Gatti. Ele acredita que o filme brasileiro independente deve aprender a se pensar também como produto e a entrar no jogo do comércio à sua própria maneira, para poder sobreviver e continuar se viabilizando e existindo.

Talita Arruda, da Vitrine Filmes, falou das dificuldades de colocar filmes brasileiros sem grande mídia nas salas de exibição. “O circuito de blockbusters dos shoppings não se interessa por esse tipo de produção. Daí a gente precisa trabalhar apenas com as salas alternativas”, comentou, reforçando a cada vez maior escassez desses espaços. O crítico Pedro Butcher exaltou a necessidade de se ampliar o parque exibidor para acolher mais e mais títulos.

O produtor Cavi Borges, porém, se mostrou pouco esperançoso de que as coisas mudem, ainda que mantenha o otimismo. “As pessoas hoje não pagam 30 reais para ir ver filme brasileiro independente na sala de cinema. Elas esperam sair na televisão, no VOD (vídeo on demand) ou mesmo baixar na internet. Tem que pensar no valor do ingresso e em formas alternativas de janela para o seu filme”, disse.