Pela primeira vez no Brasil, diretor multiartista terá toda a sua obra exibida na Mostra, além de participar de um bate-papo com o público e de escolher três filmes dos Diálogos Históricos para debater com os espectadores

Anualmente a Mostra CineBH – International Film Festival celebra a obra e a trajetória de um cineasta de expressão na produção contemporânea mundial. Em 2017, na 11ª edição do evento, que acontece entre os dias 22 e 27 de agosto, o homenageado é francês Pierre Léon. Diretor, ator, crítico, tradutor e músico, este multiartista é um dos nomes mais celebrados do cinema independente. Quase sempre deixado à margem pelo circuito de grandes festivais, Léon ganha em Belo Horizonte um merecido e urgente resgate de toda a sua obra.

Além de exibir os 14 filmes dirigidos por ele (entre longas, médias e curtas-metragens), a CineBH vai promover a Carta Branca a Pierre Léon, composta por três sessões com filmes escolhidos pelo próprio diretor e considerados fundamentais em sua formação e olhar. Os títulos participam da mostra Diálogos Históricos e serão apresentados e debatidos por Leon, que vem ao Brasil pela primeira vez para participar do evento.

“A obra do Pierre Leon nos oferece potentes reflexões sobre o cinema, a cinefilia e a cultura em geral. Alguns de seus filmes são radicais no trato com o teatro, outros são relacionados ao ritmo e à música, muitos adaptam obras literárias, tendo em comum a presença de um aspecto romanesco e pictórico bastante característico do cinema moderno francês”, destaca Francis Vogner, um dos curadores da CineBH, junto com Pedro Butcher e Marcelo Miranda.

A escolha por celebrar o trabalho de Leon foi uma extensão natural de anos anteriores da CineBH, quando foram exibidos os longas mais recentes do diretor. Num ano em que a temática central da Mostra vai girar em torno do “Cinema de Urgência”, discutindo as formas de o audiovisual responder imediatamente aos anseios históricos e políticos, ter Pierre Leon como homenageado é olhar para um outro sentido da noção de imediatismo. “Os autores guiados pela urgência serena de resistir ao fluxo torrencial das imagens-clichê também produzem uma forma de resistência imensamente potente. O cinema que procura escapar das armadilhas e tendências da moda e que apenas aparentemente parece ser anacrônico costuma pagar um preço alto por essas escolhas, sendo condenado a uma cruel invisibilidade nos circuitos dos festivais e das salas comerciais”, reforça Pedro Butcher.

Filho de um correspondente do jornal “L’Humanité”, Pierre Léon nasceu em Moscou em 1959. Passou a infância e parte da juventude na Rússia, o que influenciou várias de suas escolhas artísticas – entre elas, a constante adaptação de obras literárias de Fiodor Dostoiévski, em filmes como O Adolescente (2001), O Idiota (2009) e Dois Rémi, Dois (2015). Na França, fez parte da geração de críticos de cinema da revista “Trafic” e manteve diálogo e convivência com colegas como Serge Daney, Jean-Claude Biette e Louis Scorecki, entre outros. Seu primeiro longa-metragem, Duas Damas Sérias, foi realizado em 1988.

Além da exibição de todos os filmes dirigidos pelo francês, a CineBH vai promover o Encontro com Pierre Léon, no qual o cineasta vai conversar com o público sobre suas obras e experiências no cinema e na arte em geral, e os Diálogos Históricos, com uma seleção de filmes que o influenciam ou encantam.

Léon definiu um trio de obras de épocas e estéticas diversas que dialogam diretamente com sua faceta de criador múltiplo: O Pecado de Clunny Brown (1946), de Ernst Lubitsch, comédia romântica de um dos maiores encenadores da história do cinema; A Bigger Splash (1974), de Jack Hazan, filme biográfico sobre o pintor David Hockney; e Le Camion (1977), de Marguerite Duras, experimento estético-literário com a presença de Gerard Depardieu.

RETROSPECTIVA PIERRE LÉON

Duas Damas Sérias (1988)
Li Per Li (1994)
Tio Vania (1997)
O Adolescente (2001)
O Assombro (2002)
Nissin dit Max (2004, codireção de Vladimir Leon)
Outubro (2006)
Guillaume e os Sortilégios (2007)
O Idiota (2009)
Na Barba de Ivan (2009)
Biette (2011)
Phantom Power (2012)
Por Exemplo, Electra (2013)
Dois Rémi, Dois (2015)

DIÁLOGOS HISTÓRICOS: CARTA BRANCA A PIERRE LÉON

O Pecado de Clunny Brown
(1946), de Ernst Lubitsch
A Bigger Splash (1967), de Jack Hazan
Le Camion (1977), de Marguerite Duras