Dividido em três temáticas – Histórica, Preservação e Educação – evento conta com intensa programação gratuita de exibição de filmes consagrados e em pré-estreias, shows, rodas de conversa, seminário e lançamento de livros. Mostra segue em cartaz em Ouro Ptreto até o dia 18/06, segunda-feira

Em sua 13a edição, a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto realiza nesta quinta-feira, às 20h30, a cerimônia de abertura, no Cine Vila Rica, seguindo como o principal evento audiovisual brasileiro a tratar simultaneamente de Patrimônio, Educação e História. Com a presença de cineastas, pesquisadores, restauradores, professores, críticos, jornalistas, estudantes e espectadores dos mais variados perfis, a mostra segue na cidade histórica mineira até o dia 18 (segunda-feira), com vasta programação gratuita de filmes, seminário, exposição, shows musicais, lançamentos de livros e rodas de conversa. Será um ano especial para Ouro Preto que celebra, em 2018, 80 anos de tombamento como Patrimônio Mundial da Humanidade.

 A abertura, na noite de quinta-feira, vai apresentar o tema geral da mostra este ano: Fronteiras do Patrimônio Audiovisual em Diálogo com a História, Educação e as Artes. Com criação e direção de Chico de Paula e Grazi Medrado e trilha ao vivo de Barulhista, a cerimônia irá apresentar as temáticas do evento e ainda prestar homenagem à atriz Maria Gladys, que receberá o Troféu Vila Rica em tributo à sua trajetória. Serão exibidos o curta-metragem Maria Gladys, uma Atriz Brasileira (Norma Bengell, 1980) – que, com apenas uma cópia 35mm em acervo, foi digitalizado em DCP pela organização do evento; e o longa Sem Essa, Aranha (Rogério Sganzerla, 1970), que traz a atriz num de seus papéis mais marcantes. Figura ícone do cinema brasileiro desde os anos 1970, Gladys vai participar do festival e relembrar sua prolífica carreira. Ao longo da programação, o público ainda assistirá à atriz na tela nas exibições de Vida, de Paula Gaitán (2008), e da pré-estreia de Quebranto, de José Sette. Ela também participa de uma roda de conversa na sexta-feira, ao meio-dia, no Centro de Convenções.

 Até o dia 18, toda a programação da mostra é gratuita e vai ocupar o Cine Vila-Rica, a Praça Tiradentes (com o Cine Praça), o Centro de Artes e Convenções e o Sesc Cine Lounge Show. Nesta edição, serão exibidos 134 filmes (15 longas, 6 médias e 113 curtas-metragens), vindos de 12 estados brasileiros (BA, CE, ES, GO, MG, RJ, SP, PB, PE, PR, RS, SC) e 3 países (EUA, Espanha e França), distribuídos nas mostras Contemporânea, Preservação, Homenagem,  Histórica, Educação, Sessão Especial, Mostrinha e Cine-Escola. No seminário, acontecem o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e o Encontro da Educação: X Fórum da Rede Kino.

 O eixo central da Temática Histórica será a “Vanguarda tropical: Cinema e Outras Artes”, com curadoria de Francis Vogner dos Reis e Lila Foster.A programação vai apresentar e discutir um rico movimento da cultura cinematográfica brasileira, que se desenvolveu em um momento obscuro da vida política e social do país – o regime militar e a implantação do Ato Institucional Número 5 (AI-5) em 1968. No contexto da época, entre os anos 1960 e 1980, músicos, artistas plásticos e escritores se aventuraram na criação de imagens e sons de maneiras singulares e completamente fora dos padrões e do mercado audiovisual. Sem compromissos comerciais e com o sentimento maior de extrapolação expressiva, nomes como Jorge Mautner, Hélio Oiticica, Sérgio Ricardo, Torquato Neto e tantos mais pegaram em câmeras e fizeram filmes até hoje únicos e surpreendentes.

 Integram os filmes da Mostra Histórica da 13ª CineOP alguns dos mais representativos nomes da contracultura local, que transitaram a partir de suas áreas de maior atuação (artes plásticas, fotografia, música e teatro) rumo ao cinema como propulsor de questões políticas e estéticas. Vários dos filmes vêm de arquivos pessoais, tendo raras exibições públicas desde suas produções. Entre eles, estão A Fila (Katia Maciel), À Meia-noite com Glauber (Ivan Cardoso), Alma no Olho (Zózimo Bulbul), Light Works (Iole de Freitas), X(Ana Maria Maiolino), Terror da Vermelha (Torquato Neto) e O Demiurgo (Jorge Mautner). A vanguarda tropical ainda se faz presente no Seminário, na mesa “Fronteiras do Experimental: História, cinema e outras artes”. O encontro terá a presença de Guiomar Ramos (professora e pesquisadora), Tiago Mata Machado (cineasta), Kátia Maciel (artista e pesquisadora), sob mediação de Francis Vogner.

 A Mostra Contemporânea vai dialogar diretamente com a Temática Histórica, ao exibir curtas, médias e longas-metragens recentes que, na sua maioria, assumem filiação ao experimentalismo e ao diálogo entre as artes. Entre os filmes, estão A Poeira não Quer Sair do Esqueleto, de Daniel Santiso e Max William Morais; Andále!, de Petter Baiestorf; Landscape, de Luiz Rosemberg Filho; sem título #4: apesar dos pesares, na chuva há de cantares, de Carlos Adriano; e a pré-estreia O Desmonte do Monte, de Sinai Sganzerla. Mesmo nos filmes de viés mais popular, como Fevereiros, de Marcio Debellian – também em pré-estreia - o diálogo com a contracultura permanece, ao tratar de Maria Bethânia, figura central do tropicalismo.

 Na Temática Educação, a escola pública estará no centro das atenções, a partir do eixo “Memória do Futuro” e da defesa da importância da escola como algo que conserva, cuida e produz memória a cada segundo. A curadoria é de Adriana Fresquet, com assistência de Geraldo Pereira. Uma série de “cases” e programas bem-sucedidos de utilização do cinema como instrumento de ensino e aprendizado – especialmente na construção de uma grande memória audiovisual e de valorização cultural – serão apresentados no decorrer da programação.

 Um dos destaques é a mesa “Cinema e Educação: A Escola no Cinema”, reunindo representantes do Programa Cineduca, iniciativa do Uruguai que será destacada pelas convidadas internacionais Cecilia Etcheverry e Cecilia Cirillo, respectivamente coordenadora pedagógica e coordenadora técnica do projeto. Outra presença estrangeira muito aguardada é a do professor espanhol Jorge Larossa, autor de contundentes reflexões sobre a escola enquanto espaço de afetos, ele participará da mesa “Um Plano, Uma Aula”, ao lado do cineasta Cristiano Burlan, para uma reflexão do plano no âmbito do cinema e da escola. Larrosa também irá ministrar o workshop “Revelação na Escola”, apontando como o cinema e a arte são objetos transformadores numa escola. Além disso, 15 projetos inscritos foram selecionados, representando sete estados brasileiros (Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo). Os projetos estarão em três sessões do Encontro da Educação: X Fórum da Rede Kino. Uma novidade em 2018 é que os filmes selecionados que integram a Mostra Educação incluem agora trabalhos audiovisuais de estudantes, professores e cineastas, ampliando a relação dos participantes com uma cadeia de produção que se inicia nos estímulos da sala de aula. Ao todo, 69 curtas e dois médias e um longa foram selecionados para compor a Mostra.

 Na Temática Preservação, o eixo estará nas “Fronteiras do Patrimônio Audiovisual”. Os intercâmbios entre a indústria, mercado e arquivos, a formação, o uso das tecnologias, o conteúdo, fomento e regulação são a base de conversas que propõem ampliar o diálogo internacional do Brasil com instituições de guarda e manutenção de acervos. Uma das presenças deste ano é o multiartista norte-americano Bill Morrison, que vai exibir o longa-metragem Dawson City – Tempo Congelado (2016) e fazer uma masterclass sobre sua experiência como cineasta, pesquisador e preservador.

 Outros convidados estrangeiros da Temática Preservação são os norte-americanos Howard Besser, professor de Estudos Cinematográficos e diretor fundador do Moving Image Archiving & Preservation Program (MIAP) da Universidade de Nova York e Juana Suárez, integrante do APEX (Archival Exchange Program); e a francesa Céline Ruivo, coordenadora da Comissão Técnica da Fédération Internationale des Archives du Film (FIAF) e curadora na Cinemateca Francesa, que participará da apresentação da cópia restaurada de O Atalante, clássico de 1934 dirigido por Jean Vigo.

 Do Brasil, o “case” de restauração em 2018 é a obra do capixaba Orlando Bomfim, netto, primeiro cineasta a registrar sistematicamente o cotidiano cultural do Espírito Santo, a partir da década de 1970, em documentários que se tornaram peças importantes do patrimônio histórico e da cinematografia do estado. Os cinco filmes em curta-metragem que serão apresentados foram digitalizados a partir de matrizes em 35mm e 16mm depositadas no Arquivo Nacional e também em posse do cineasta.

 Na programação artística do Sesc Cine Lounge Show, no Centro de Convenções, a 13a CineOP amplia o diálogo com a Temática Histórica numa seleção de apresentações musicais de forte caráter tropicalista. Parceiro cultural da mostra, o Sesc em Minas foi responsável pelas atrações artísticas e elegeu como recorte o papel histórico do tropicalismo no processo de construção de uma “identidade nacional”. A programação é inteiramente gratuita, com retirada de senhas no local diariamente a partir das 22h.

A agenda de shows tem início na noite de 14 de junho (quinta-feira), às 22h, com o músico Barulhista e, em seguida, o cantor Marcelo Veronez e seu espetáculo “Narciso deu um grito”, com referências ao carnaval, ao teatro de revista e à diversidade de ritmos musicais brasileiros. A noite tem mais duas participações de peso: o grupo mineiro Cabezas Flutuantes que convida a cantora pernambucana Karina Buhr, para uma apresentação conjunta que vai esquentar a noite de Ouro Preto.

O sábado será especial, com a apresentação de Tom Zé, um dos ícones do tropicalismo brasileiro. Mais cedo, no mesmo dia, às 16h, o cantor participa de uma Roda de Conversa, num descontraído bate-papo com o público sobre sua trajetória.