Diretores de “Desvio” (PB) e “Vermelha” (GO), concorrentes da Aurora, falaram sobre suas experiências na abordagem de protagonistas que se apresentam aos poucos nas telas

As duas ficções exibidas na noite de quinta-feira (24), na Mostra Aurora, renderam alguns dos debates mais animados da 22a Mostra de Cinema de Tiradentes até agora, com participação intensa da plateia que vem lotando o Cine-Teatro Sesi. Os Encontros com os Filmes desta sexta-feira (25) discutiram o paraibano “Desvio”, de Arthur Lins, e o goiano “Vermelha”, de Getúlio Ribeiro. Nos dois casos, o que se desprendeu foi a mistura de rigor e frescor que se sente dos trabalhos, vindos de dois jovens talentos que demostram grande consciência do que buscam em suas expressividades.

“Me interessava acompanhar um personagem sem fazer julgamentos morais sobre suas escolhas”, disse Arthur Lins, sobre a construção do protagonista de “Desvio”, um presidiário em indulto de Natal que faz visita à família. “O interesse narrativo é o acúmulo de uma energia represada, que se materializa na cena da explosão do carro”, comenta o diretor, que defende ter feito um estudo de personagem ocultando um filme de ação. Citando referências em James Gray e Michael Mann, Lins afirmou que seu grande interesse era pensar a trajetória do protagonista no curso espaço de tempo que ele passa fora da prisão e como esse período afetaria as pessoas ao redor.

Em “Vermelha”, Getúlio Ribeiro filma o cotidiano de dois senhores e algumas outras pessoas ao redor, dentro de um pequeno arco dramático que se mantém enigmático até o fim. A intimidade dos ambientes domésticos e a proximidade com a família o ajudaram a atingir a potência que se percebe no filme – e também o senso de humor, como pontuou o crítico convidado, Ewerton Belico. “‘Vermelha’ é um inventário de pequenos acontecimentos, uma fatura narrativa na qual cabem materiais diversos e mudanças abruptas de registro. Ele parece fragmentado, mas só na superfície, e narra por polinização, com subtramas se espalhando no espaço e no tempo”, pontuou Belico.

Segundo Getúlio Ribeiro, diretor de “Vermelha”, o filme foi feito ao longo de 2017 sem ordenação de filmagem, o que determinou a indefinição temporal que se percebe. “Durante o processo de montagem, percebemos que várias cenas poderiam existir em pontos variados do filme. Apesar de termos dois blocos – com os homens e com as mulheres – e apesar das distâncias de tempo na filmagem, conseguíamos mostrar a energia do contato e da comunicação”, disse ele.

A manhã de sexta-feira também teve discussão sobre “Parque Oeste”, documentário goiano de Fabiana Assis sobre a violência sofrida por moradores de uma ocupação na capital do estado em 2005. O filme teve comentários do crítico Francis Vogner dos Reis, que chamou atenção para a sequência do ataque da Polícia Militar aos moradores, filmado por uma das pessoas lá presentes. “A opressão da polícia é feita de forma espetacular com o intuito de infligir medo. É um espetáculo da violência com objetivo de proteger a propriedade, e a propriedade virou algo muito valorizado pelas elites no Brasil”, disse Francis. “A força, no sentido grego, esmaga e destrói. Essa força sempre esteve no país, em qualquer época. E resta àquelas pessoas se mobilizar para resistir”.

A diretora Fabiana Assis, ao lado de Eronilde, uma das moradores da comunidade de Real Conquista e viúva de uma das vítimas do ataque da PM em 2005, disse que sentia a responsabilidade de lidar com as imagens daquele dia, por estar relembrando momentos de agonia a pessoas que sofreram aquela violência. Antes um curta, o projeto de retomar a desapropriação do Parque Oeste surgiu quando Fabiana teve acesso a mais material e decidiu por montar um longa-metragem. “Era necessário maior tempo de assimilação e aprofundamento”, contou.

NA PROGRAMAÇÃO

Além da exibição de nove filmes, entre curtas e longas, nas mostras Corpos Adiante, Panorama, Olhos Livres, Aurora e Praça, a sexta contou com o lançamento do livro “O autor no cinema”, de Jean-Claude Bernardet. Publicado pela primeira vez em 1994, a publicação, reeditada, traz a obra em versão revista e ampliada com a colaboração do pesquisador Francis Vogner dos Reis, que participou de um bate-papo realizado no Sesc Cine-Lounge. O crítico esteve ao lado dos cineastas Cristiano Burlan e Dellani Lima, mediados por Pedro Maciel Guimarães, para uma conversa que teve como tema “O autor e o corpo no cinema”. A noite terminou com a performance musical com Loquaz + Video Makino, duo eletrônico desenvolvido pelos produtores Fumaça e Ana Assis

SOBRE O EVENTO
22ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES

PLATAFORMA DE LANÇAMENTO DO CINEMA BRASILEIRO

Considerada a maior manifestação do cinema brasileiro contemporâneo em formação, reflexão, exibição e difusão. Busca refletir e debater, em edições anuais, o que há de mais destacado e promissor na nova produção audiovisual brasileira, em longas e curtas, em qualquer gênero e em formato digital. A programação é oferecida gratuitamente ao público e inclui exibição de filmes brasileiros (longas e curtas), pré-estreias, homenagens, debates, encontros com a crítica, o diretor e o público, oficinas, seminário, mostrinha de Cinema, atrações artísticas.

TODA PROGRAMAÇÃO É OFERECIDA GRATUITAMENTE AO PÚBLICO.

Serviço
 22ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES | 18 a 26 de janeiro de 2019 

LEI FEDERAL DE INCENTIVO À CULTURA

LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA

Patrocínio:  TAESA, KINEA/Itaú, CSN, CBMM, CEMIG, COPASA|GOVERNO DE MINAS GERAIS

Parceria Cultural: SESC em Minas

Fomento: CODEMGE|GOVERNO DE MINAS GERAIS

Apoio: ACADEMIA INTERNACIONAL DE CINEMA, SESI FIEMG, OI, INSTITUTO UNIVERSO CULTURAL, TRES, WALS CERVEJA ARTE, MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, SENAC, CINEMA DO BRASIL, DOT, MISTIKA, CTAV, NAYMAR, CINECOLOR, GLOBO MINAS, CANAL BRASIL, EMBAIXADA DA FRANÇA, ETC FILMES, NOVA ERA SILICON, POLÍCIA MILITAR, PREFEITURA DE TIRADENTE E CENTRO CULTURAL AIMORÉS.

Incentivo: SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA| MINAS GERAIS

Idealização e realização: UNIVERSO PRODUÇÃO

MINISTÉRIO DA CIDADANIA | GOVERNO FEDERAL

 

LOCAIS DE REALIZAÇÃO DO EVENTO

Centro Cultural Sesiminas Yves Alves   

Largo das Fôrras 

Largo da Rodoviária

Escola Estadual Basílio da Gama