A programação do dia conta ainda com a pré-estreia do longa “Bandeira de Retalhos”, de Sérgio Ricardo, encerrando a Mostra Homenagem no Cine –Tenda; a exibição de “Todos os Paulos do Mundo”, documentário sobre a trajetória do ator Paulo José, no Cine BNDES na Praça; e no Cine-Teatro, debates continuam a discutir a temática do evento

O segundo dia da 21a Mostra de Cinema de Tiradentes será marcado pelo início das sessões da Mostra Olhos Livres, com a exibição de “Fernando”, de Igor Angelkorte, Julia Ariani e Paula Vilela, às 20h, no Cine-Tenda. O filme revela a vida de um professor-artista de 74 anos. Provocado a interpretar a própria vida, mesclando realidade e ficção, o personagem-título se vê diante de um grave problema de saúde e segue rotina preenchida de projetos e desejos na arte. O filme concorre ao Troféu Barroco pela escolha do Júri Jovem, que avalia todos os longas-metragens da Olhos Livres.

Nas sessões de cinema, o domingo também tem no Cine-Tenda a última sessão da Mostra Homenagem, com pré-estreia nacional, às 22h, de “Bandeira de Retalhos”, dirigido pelo veterano cineasta Sérgio Ricardo. Músico, diretor e agitador cultural, Sérgio chamou Babu Santana – ator homenageado nesta edição da Mostra – para participar do longa, que narra a história de moradores e líderes comunitários do Vidigal, nos anos 1970, que tentam impedir a remoção da favela por governantes corruptos. Em seguida à exibição, Sérgio Ricardo participará de bate-papo e fará o espetáculo “Cinema na Música”, no Sesc Cine-Lounge. Dirigida por Marina Lufti, a apresentação conta com diversas composições que marcaram a carreira do artista.

Outro veterano marca presença nas telas de Tiradentes no domingo, às 21h, no Cine BNDES na Praça, com o documentário “Todos os Paulos do Mundo”. Dirigido por Rodrigo de Oliveira e Gustavo Ribeiro, o filme presta tributo à carreira de Paulo José, um dos maiores nomes do teatro, cinema e TV no Brasil. Logo após a exibição, os espectadores podem ficar para um bate-papo com os diretores, com mediação da curadora Lila Foster.

As sessões de curtas-metragens têm três recortes, todos no Cine-Tenda: às 15h, a Cena Regional apresenta um panorama da produção mineira em diversas regiões do Estado, destacando novos realizadores e novas propostas; às 17h, a segunda série da Foco Minas segue mostrando parte significativa de realizações de cineastas com trajetórias consolidadas; às 18h15, a Panorama 2 reúne quatro títulos de diversas regiões e que tiveram boa circulação em festivais recentes.

Durante a manhã e a tarde, no Cine-Teatro Sesi, continuam as atividades do Seminário do Cinema Brasileiro. Dois longas-metragens da noite anterior serão discutidos nos Encontros com os Filmes, com mediação de Francis Vogner e presença dos realizadores: “Arábia”, às 10h30, com o crítico convidado Ruben Caixeta Queiroz; e “Era uma Vez Brasília”, às 11h45, com o crítico convidado Raul Arthuso. Às 15h30, acontece o debate conceitual “O corpo e a fala realista nas interpretações”, com as presenças de Aline Brune (atriz e artista visual, BA), Patrícia Saravy (atriz, PR) e René Guerra (diretor e roteirista, SP), com mediação de Pedro Maciel Guimarães.

SOBRE A TEMÁTICA

O primeiro dia de Seminário na Mostra, no sábado, foi de intensas discussões sobre a temática central deste ano, Chamado Realista. Toda a equipe de curadoria da Mostra de Cinema de Tiradentes se reuniu no Cine-Teatro para falar sobre as escolhas de curtas e longas-metragens deste ano. “A partir de 2012, a Mostra passou a realizar uma reflexão sobre os filmes que apresentavam uma relação mais direta com a vida, percebida nos longas que se destacaram ou ganharam a Mostra Aurora”, apontou Cleber Eduardo, um dos curadores de longas. “Esse ‘chamado realista’ está fortemente presente nos documentários observacionais, mas também nos filmes em primeira pessoa, em filmes de gênero, em obras que trabalham só com arquivos e em ficções mais próximas do naturalismo, que aqui vamos chamar de realismo”.

Em 2018, a temática ganhou espaço especial na programação, com uma seção dedicada a filmes que dialogassem diretamente com as questões levantadas pela curadoria, tanto em curtas quanto em longas. “Sobre os cinco longas da Mostra Chamado Realista, há destaque para a presença forte do ator, da fala dos protagonistas dessas narrativas, muito aterrada pela presença dos corpos e dos personagens em cena”, destacou Lila Foster. Nos curtas, um dos curadores, Francis Vogner dos Reis, disse que buscou-se “representar as diferentes formas e estratégias para realizar esse chamado realista”. “Os filmes cada vez mais tentam organizar certa experiência e dizer alguma coisa sobre ela”.

O assunto continuou na mesa seguinte, dedicada ao ator homenageado, Babu Santana. Com a presença de diretores que trabalharam com ele em filmes diversos, o encontro tratou dos métodos de trabalho do carioca e de seu compromisso com construções fortes e realistas de seus personagens. Sérgio Ricardo, que o dirigiu em “Bandeira de Retalhos”, relembrou que Babu não seguia o roteiro e construiu um personagem que, na opinião do diretor, era ainda melhor do que ele havia elaborado “Para mim, foi um susto, uma grande surpresa, uma coisa admirável”, exaltou.

Ao falar, o próprio Babu reconheceu que busca em suas experiências a essência de várias criações. “Quando eu improviso, busco dar minha colaboração, minha contribuição em cima do roteiro, mas sempre respeitando a obra e o autor. Eu busco entender o personagem, e isso é libertador”, disse.  Ele identifica uma maior presença de atores e atrizes negros na TV e no cinema brasileiro e acredita que a representação das periferias vá ganhar olhares mais plurais. “A representação da favela no cinema e a TV mudou um pouco. Isso altera a visão de quem é de dentro e de quem é de fora. Ajuda a mudar nossos conceitos de quem é de fora e quem é de dentro. Não está bom ainda, mas já foi pior e vai melhorar”.

“Café com Canela”, filme de abertura da Mostra, foi bastante discutido no Encontro com os Filmes, no qual o crítico Juliano Gomes discorreu sobre diversos aspectos do longa de Glenda Nicácio e Ary Rosa. “É um filme muito marcado pelo se expor, pelo se oferecer para o outro. É bastante emocionante, carrega nosso sangue, nossas lágrimas”, afirmou. “Também é um filme anti-isolamento: todo mundo interage, mas todos são diferentes entre si. Tem a perspectiva de troca de ponto de vista, em que o filme é visto, mas que parece também nos ver e transmitir essa força da mudança”. 

TODA PROGRAMAÇÃO É OFERECIDA GRATUITAMENTE AO PÚBLICO.

Foto:
Pedro Faerstein