Em 2018, são oferecidas 10 modalidades, com 225 vagas; ao longo dos últimos 21 anos foram realizados 221 cursos, com mais seis mil pessoas certificadas

A Mostra de Cinema de Tiradentes vai muito além da exibição de filmes. Performances artísticas, lançamentos de livros e DVDs e uma intensa agenda de encontros e discussões sobre a produção contemporânea integram a programação do evento, que tem ainda, como atração fundamental, oficinas que possibilitam a capacitação e formação de mão de obra qualificada para o mercado audiovisual. Todas as oficinas promovidas pela Mostra de Tiradentes são inteiramente gratuitas e ministradas por profissionais com respaldo em suas respectivas áreas de atuação.

A oferta dos cursos representa um dos maiores pilares do Programa Cinema Sem Fronteiras, promovido pela Universo Produção, responsável  não só pela Mostra de Cinema de Tiradentes, mas também pela Mostra de Cinema de Ouro Preto – CineOP e Mostra de Cinema de Belo Horizonte – CineBH. Todos os eventos contam com este diferencial em sua grade de programação. “Por meio desta iniciativa nós renovamos, anualmente, nosso compromisso com o desenvolvimento da indústria audiovisual em Minas Gerais e no Brasil”, ressalta a diretora Raquel Hallak.

Em 2018, em Tiradentes, são ofertadas 10 modalidades com 225 vagas para o público infanto-juvenil e adulto. Para pessoas de 12 a 20 anos foram oferecidas “Caixa criativa dos escritores”, “Dramaturgia em 360 graus – o desafio da narrativa em todas as direções”, “Cinema e artes plásticas – histórias de sombras” e “Por trás da câmera”. A partir dos 18 anos, as opções foram “Atuação no cinema realista”, “Direção de atores”, “Do ator ao personagem – a produção de elenco no audiovisual”, “Elaboração e financiamento de projetos audiovisuais”, “Introdução a projetos audiovisuais multiplataformas” e “Realização curta digital”.

Uma das oficinas com maior procura foi “Elaboração e financiamento de projetos audiovisuais”, ministrada pelo cineasta Guilherme Fiuza e pela consultora e produtora executiva Júlia Nogueira – justamente por apresentar um aspecto pouco discutido no ambiente acadêmico e de produção. “A ideia é clarear as possibilidades de planejamento e formas de financiamento que existem. O mais importante é que o realizador saiba que projeto deseja fazer, como quer financiá-lo e onde pretende exibir”, afirma o instrutor, que completa 25 anos de carreira em 2018 e já participou da Mostra seis vezes como oficineiro e oito vezes como convidado.

De acordo com ele, o envolvimento dos participantes com a temática facilita o aprendizado. “Temos quatro doutores participando da oficina, por exemplo, mas mesmo quem não é, os que são ainda estudantes, têm uma noção boa de mercado”, garante.

É o caso da estudante Débora Mano, de 21 anos, que, pela primeira vez, está participando de uma oficina na mostra. Ela já atua no setor audiovisual, principalmente na área de edição, e, atualmente, está envolvida com a produção de um documentário sobre mulheres na direção de filmes. “O conteúdo dos editais é denso, por isso é comum ter dúvidas sobre por onde começar e até mesmo qual escolher. A oficina me ajudou a entender melhor este funcionamento, a partir da análise de pontos que são comuns a todos eles. Este aspecto é fundamental, já que a produção cinematográfica está fortemente atrelada ao financiamento das leis de incentivo”, explica.

EXPERIÊNCIA POSITIVA

As oficinas promovidas pela Mostra de Cinema de Tiradentes contribuíram também para a formação dos diretores Ary Rosa e Glenda Nicácio, responsáveis pelo filme da abertura da 21ª edição, Café com Canela. “As experiências com a Mostra de Tiradentes, seus filmes e oficinas foram muito importantes para a minha formação e entendimento do audiovisual, sua linguagem e expressão. Em 2011, ainda no início do curso de Cinema na UFRB, tive a oportunidade de fazer uma oficina de direção com Jorge Bodanzky. Em 2013, já com a empresa Rosza Filmes [produtora fundada por eles] aberta, fizemos uma oficina sobre o mercado da TV e a produção independente com Leonardo Dourado. A partir disso a nossa empresa se abriu para a aproximação dos editais e contatos com as novas possibilidades de parceria com os canais de TV fechada e TVs públicas. Café com Canela já faz parte dessa aproximação, já que se trata de uma parceria de investimentos da ANCINE junto ao Instituto de Radiodifusão da Bahia (TVE Bahia)”, analisa Rosa.

“Em 2013 participamos da oficina de desenvolvimento e  formatação de projetos para TV na Mostra Tiradentes. Foi minha primeira experiência de encontro para discussão do mercado. Na época, discutíamos os caminhos da lei 12.485 (lei da TV Paga) e ouvir as considerações  de Leonardo Dourado, que ministrava essa oficina, possibilitou que eu tivesse a dimensão do quanto era necessário me aprofundar no estudo de políticas públicas e estruturar estratégias de produção, ainda que criativas, para encarar e até questionar esse dito "mercado"...pensar onde estamos diante dele, enquanto produtores que atuam no interior da Bahia. Essa oficina fez com que percebêssemos que era necessário ousar mais”, garante Nicácio.

A Mostra de Cinema de Tiradentes contribuiu também com a trajetória do realizador Luis Bocchino. Responsável pela montagem e fotografia do filme Imo, que concorre ao troféu Barroco dedicado ao melhor longa da Mostra Aurora, uma das competitivas do evento, ele participou da oficina de Produção Audiovisual Criativa, em 2012. Na oportunidade, aprendeu a criar mecanismos para driblar a falta de recursos financeiros e até mesmo otimizar o tempo de produção.

“Fiquei surpreso com a liberdade de experimentação e com o lado prático das aulas”, diz. A experiência, de acordo com ele, ajudou a colocar em prática os projetos autorais engavetados e a conhecer novas formas de fazer audiovisual. “Conheci muita gente, realizadores e instrutores. Com os novos contatos, adquiridos na passagem pela mostra, formei um coletivo no qual atuo até hoje”, finaliza.

RETROSPECTIVA

As oficinas integram a programação da Mostra de Cinema de Tiradentes desde a primeira edição, realizada em 1997. Ao longo dos últimos 21 anos, foram ofertados 221 cursos (incluindo a edição deste ano) e capacitadas mais de 6 mil pessoas. Pelo evento também passaram pessoas hoje com uma sólida trajetória no setor audiovisual.

TODA PROGRAMAÇÃO É OFERECIDA GRATUITAMENTE AO PÚBLICO.

Foto: 
Leo Lara/ Universo Produção