Filmes realizados em São Paulo correspondem a mais de 60% da programação cinematográfica do evento. Número é reflexo da produção consistente do estado que foi, também, destaque na edição mineira do evento

Quem conferiu a 21ª Mostra de Tiradentes em janeiro, surpreendeu-se com a forte presença de produções paulistas na programação: dos 102 filmes exibidos, 28 eram originários de São Paulo, sendo 12 longas e 16 curtas. Este cenário será reproduzido em março, na própria capital paulista, com a realização da 6ª edição da Mostra Tiradentes |SP, de 15 a 21 de março, no Cinesesc (Rua Augusta, 2075 – bairro Cerqueira César | São Paulo). Uma parceria entre a Universo Produção e o Sesc-SP , o evento apresenta um panorama do cinema brasileiro contemporâneo e conta com exibição de filmes, debates, encontros, oficina e laboratório.

 Norteada pela temática “Chamado Realista”, a Mostra terá massiva participação de produções do estado de São Paulo: dos 32 filmes exibidos, 20 são paulistas (09 longas e 11 curtas), incluindo obras apresentadas na 21ª Mostra Tiradentes e outros títulos inéditos, selecionados especialmente para a itinerância. Os filmes estão distribuídos em mostras temáticas: três longas na Mostra Paulista, três longas na Mostra Aurora, um longa da Mostra Chamado Realista, um longa da Mostra Homenagem e o longa vencedor da Mostra Olhos Livres que encerra o festival.  

 Essa presença reflete uma consistente produção paulista, cuja reflexão extrapola o local de realização, e que, quando caracterizada, deve ter considerada suas variadas facetas, como destaca o curador Cleber Eduardo: “Se admitirmos uma possibilidade de caracterização, pode-se indicar o cinema paulista como um cinema plural e transformado, em continuidade e em mudança, poroso e resistente aos diferentes ciclos de produção, com setas contrárias nos mesmos ciclos, sem ser só uma coisa ou mesmo apenas algumas coisas distintas”.

 Na Mostra Paulista, uma das novidades deste ano, o público poderá conferir quatro longas produzidos em São Paulo. Dois deles inéditos, convidados especialmente para integrar esta programação: “Pássaro Transparente”, de Dellani Lima, e “Berço Esplêndido”, de Lucas Acher. “Platamama”, de Alice Riff, e  “Inaudito”,  de Gregorio Gananian, completam a seleção dos curadores Cleber Eduardo e Lila Foster, elaborada justamente para refletir sobre essa produção: “Nem todo o cinema paulista, menos ou mais comercial, menos ou mais autoral, é um reflexo, ou reflexão, com a cidade no centro, embora estes sejam os mais paulistanos, no sentido de assumirem a cidade e seus moradores como tais, como moradores da cidade, com seus efeitos, seus problemas afetivos, psicológicos, tanto nos filmes de apartamentos como nos filmes de ruas e avenidas, quase sempre procurando articular as particularidades das vidas com o exterior de uma coletividade impessoal. Os três filmes programados para a Mostra Paulista em Tiradentes SP 2018, sem dúvida, contribuem para a manutenção desta reflexão, para sua expansão, nunca para seu encerramento. Todos são protagonizados por artistas, da poesia ao rap, particularidade desta safra. Nenhum dos artistas é pop ou, ao menos neste momento, tem visibilidade midiática”, comenta Cleber Eduardo.

 A estes quatro longas da Mostra Paulista somam-se outros seis filmes distribuídos em outros segmentos da programação de Tiradentes SP. Metade deles integra a Mostra Aurora: “Madrigal para um Poeta Vivo”, direção de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho; “Ara Pyau - A Primavera Guarani”, de Carlos Eduardo Magalhães; e “Lembro Mais dos Corvos”, de Gustavo Vinagre. Esse último, inclusive, chega a São Paulo premiado: a atriz e co-roterista Julia Katharine foi eleita pelo Júri da Crítica da 21ª Mostra Tiradentes como destaque feminino e recebeu o Prêmio Helena Ignez.

Na verdade, o destaque para a produção paulista não foi só quantitativo, mas também o qualitativo. Além do Prêmio Helena Ignez, os Troféus Barroco da Mostra Olhos Livres e do Melhor Longa eleito pelo Júri Popular, também foram para filmes do estado. “Inaudito”, primeiro longa do diretor Gregorio Gananian, foi eleito pelo Júri Jovem para levar o primeiro, enquanto “Escolas em Luta”, de Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli, foi o escolhido do júri popular. As duas sessões poderão ser conferidas também em São Paulo. O filme “Escola de Cinema”, direção Angelo Ravazi, da Mostra Homenagem Ismail Xavier, completa a seleção de longas paulistas.

 Destaque a parte, os curtas do estado são também celebrados em um recorte especial, a Mostra Foco SP: “A mostra Foco SP, inspirada no nome da mostra competitiva do festival mineiro, traz as produções que motivaram o olhar e a emoção dos membros da curadoria e tem como ponto comum terem sido feitos em São Paulo. Todos eles abordam o universo urbano de maneira ao mesmo tempo particularizada e universal; questionam ocupações humanas, relações interpessoais e profissionais, situações afetivas. São filmes que transpõe para a tela o espaço urbano caótico e fascinante da cidade, sem deixar de lado a relação com a história do cinema que alimenta seus cineastas”, sintetizam os curadores Camila Vieira, Francis Vogner dos Reis e Pedro Maciel Guimarães.

 Itegram a seleção “Vaca Profana”, de René Guerra; “Na vida, quem perdeu o telhado, recebe as estrelas”, de Henrique Zanoni, “Memórias de um primeiro de maio”, de Danilo J. Santos; e “Sweet Heart”, de Amina Jorge. Todos os filmes foram também exibidos na 21ª Mostra Tiradentes, em diferentes recortes.

 Também composta apenas por filmes paulistas, a Mostra Chamado Realista foca na temática norteadora do evento, reunindo os curtas: “Peripatético”, de Jéssica Queiroz; “Ainda se morre na fila do hospital”, de Lucas Guerra; “Azul Vazante”, de Julia Alquéres; e “Universo Preto Paralelo”, de Rubens Passaro. “Produzidos em São Paulo, esses quatro filmes apresentam formas diferentes de relação com o presente a partir de um olhar crítico e de tensão com o real, seja pela ficção ou pelo documentário. O contexto histórico-social do Brasil é convocado em meio a estratégias de dramaturgia de personagens comuns ou como eixo norteador de uma montagem que se serve da organização de materiais de arquivo”, destacam os curadores.

 Completam os representantes de curtas de São Paulo os filmes da Mostra Foco: “Outras”, de Ana Júlia Travia; “Febre”, de João Marcos de Almeida e Sérgio Silva; e “Estamos Todos Aqui”, de Chico Santos e Rafael Mellim, ganhador do Prêmio Canal Brasil de Curtas eleito pelo Júri Canal Brasil na 21ª Mostra Tiradentes.