Evento contou com a presença de mais de 320 profissionais do audiovisual em uma programação intensa e gratuita, que beneficiou um público estimado em 18 mil pessoas
Em seis dias, a 13ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto reforçou, mais uma vez, seu propósito como instrumento de reflexão e luta pela salvaguarda do patrimônio audiovisual brasileiro em diálogo com a educação. Entre os dias 13 e 18 de junho, a cidade histórica mineira recebeu mais de 320 profissionais do audiovisual, pesquisadores, críticos, acadêmicos, preservadores, jornalistas e representantes de entidades de classe para conhecer, discutir, dialogar e pensar o cinema como patrimônio – uma iniciativa pioneira em âmbito nacional. Além de sessões de filme, o evento contou com a realização de debates, oficinas, cortejo da arte, exposição, lançamento de livros e shows.
A CineOP está estruturada em três eixos – Preservação, História e Educação – cada uma delas com uma curadoria e temática específica. Juntas, elas deram origem a uma programação intensa e gratuita, composta por 134 filmes (18 longas, cinco médias e 111 curtas-metragens), vindos de 12 estados brasileiros (BA, CE, ES, GO, MG, RJ, SP, PB, PE, PR, RS, SC) e três países (EUA, Espanha e França). Tudo isso dividido em seis mostras temáticas: Histórica, Preservação, Contemporânea, Educação, Mostrinha e Cine-Escola. O evento recebeu ainda sete convidados internacionais de quatro países, Estados Unidos, França, Espanha e Uruguai.
“A CineOP inaugura, em 2018, uma ampliação do diálogo com o setor, ao estender as reflexões sobre a preservação também para a indústria. Do ponto de vista da educação, percebemos um avanço muito grande ao propor, para esta edição, a discussão sobre a escola pública, qual é seu papel como espaço físico, como conteúdo e sobre as pessoas que ali estão se formando. Na temática Histórica, em comemoração aos 50 anos da Tropicália, promovemos o diálogo entre o cinema e outras artes, como esta contracultura se configurou na década de 1970 e como olhar contemporâneo pode trazer outras formas de perceber este movimento”, resume a diretora da Universo e coordenadora geral do evento, Raquel Hallak.
A 13ª CineOP homenageou a atriz Maria Gladys, figura emblemática do Cinema Novo e Marginal. Com longa trajetória – a artista é dona de uma trajetória que soma 60 anos – ela recebeu o Troféu Vila Rica em uma emocionante cerimônia, na qual agradeceu, se emocionou e relembrou parte de sua história. A Mostra Homenagem exibiu quatro filmes, entre eles o raro Maria Gladys, uma atriz brasileira, dirigido por Norma Bengell em 1980.
A Temática Histórica, com curadoria de Lila Foster e Francis Vogner dos Reis, teve como tema a “Vanguarda Tropical: cinema e as outras artes”. A seleção revisitou produções artísticas brasileiras das décadas de 1960 e 1970, com a exibição de 17 filmes realizados por artistas conectados ao movimento tropicalista.
A Temática Preservação, que tem à frente Inês Aisengart e José Quental, defendeu as bases de um debate mais amplo e articulado entre os diferentes atores da cadeia do audiovisual tendo o patrimônio audiovisual como foco central a partir do tema “Fronteiras do Patrimônio Audiovisual”. Neste recorte, foram exibidos oito filmes, entre eles O Atalante, obra-prima do francês Jean Vigo; o acervo do capixaba de Orlando Bomfim, neto e Dawson City – A Cidade Congelada, do cineasta norte-americano Bill Morrison.
Já a Temática Educação, que trouxe o tema “Escola: Memória do Futuro”, colocou a escola no centro das atenções. A curadoria de Adriana Fresquet colocou em evidência o conceito e a noção de “memória do futuro”, a importância da escola como algo que conserva, cuida e produz memória a cada segundo, num presente ativo, ao mesmo tempo antecipando o futuro, imaginando-o, sonhando o mundo que quer habitar como gesto de invenção. Foram exibidos 69 curtas produzidos em contexto escolar, além de dois médias, Teoria da Escola, de Maximiliano Valerio López, e Elogio da Escola, de alunos e professores da Escola de Bordils | Associação A Bao A Qu; e um longa, Abecedário de Educação – Jorge Larossa, de Adriana Fresquet.
Reforçando sua preocupação com a preservação e o resgate histórico, a CineOP exibiu quatro filmes em 35 mm, três curtas - Das Ruínas à Rexistência (Carlos Adriano, 2007-2009), À Meia-Noite Com Glauber (Ivan Cardoso, 1997) e O Som ou Tratado de Harmonia (Arthur Omar, 1984) – e um longa, Caveira My Friend (Álvaro Guimarães, 1970).
OFICINAS E SEMINÁRIO
Esta edição da CineOP ofereceu quarto oficinas, dois workshop internacionais e uma master class, certificando assim 280 participantes. O evento também promoveu o 13º Seminário do Cinema Brasileiro: Fatos e Memória, com a participação de 79 profissionais no centro de 20 debates.
O professor, autor e ensaísta Jorge Larrosa (Espanha) ministrou o workshop “Revelação da Escola”, com conteúdo e enfoque no cinema e arte como procedimentos para revelar ou trazer à presença a materialidade e forma da escola (seus espaços, seus tempos, seus objetos, suas atividades, seus sujeitos, seus gestos).
Céline Ruivo (França), integrante da Fédération Internationale des Archives du Film e diretora na Cinemateca Francesa, compartilhou suas experiências no workshop sobre a Comissão técnica da Federação Internacional de Arquivos Fílmicos - FIAF, da qual é coordenadora.
O Encontro Nacional de Arquivos trouxe o multiartista Bill Morrison (EUA) para a master class “Processo de Criação, Pesquisa e os Arquivos Audiovisuais”, na qual falou sobre seu processo de criação, suas pesquisas sobre os materiais e sobre sua relação com os arquivos audiovisuais.
CINE-ESCOLA
O Cine-Expressão, programa socioeducacional-cultural que une as linguagens educação e cultura, com foco na formação do cidadão a partir da utilização do audiovisual no processo pedagógico interdisciplinar, contou com a participação de 15 escolas da rede pública de ensino, com mais de 3.500 alunos e educadores inscritos. Foram realizadas oito sessões cine-escola e cine-debates, com nove curtas e um longa, para crianças a partir de cinco anos e jovens a partir de 14.
LANÇAMENTO DE LIVROS
A CineOP foi palco para o lançamento de seis títulos fundamentais para a história e análise do cinema. São eles: “Filmes históricos no ensino de história”, de Arthur Versiani Machado; “História em movimento: os Cinejornais de Minas Gerais” (Realização Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte / Fundação Municipal de Cultura, organizado por Isabel Cristina Felipe Beirigo; “Nova História do Cinema Brasileiro I e II”, organizado por Fernão Pessoa Ramos e Sheila Schvarman, “Pessoas com necessidades especiais no cinema”, organizado por Margareth Diniz, Mônica Maria FaridRahme, Inês Assunção de Castro Teixeira e José de Sousa Miguel Lopes; Ver e Ver Como – Cinema, Filmes e Cineastas Marcantes”, escrito por Humberto Pereira da Silva; e “Elogio da Escola”, do espanhol Jorge Larrosa.
PROGRAMAÇÃO ARTÍSTICA
A curadoria artística da 13ª CineOP foi realizada por meio da parceria cultural com o Sesc, em diálogo direto com a temática histórica. Foram nove shows, além das performances dos DJs convidados. A ampliação da capacidade de público do Sesc Cine Lounge, com a montagem de um telão externo, permitiu que um número ainda maior de pessoas pudesse prestigiar a animada programação noturna do evento.
O tradicional Cortejo da Arte reuniu 11 grupos artísticos para celebrar o Ano do Patrimônio Cultural de Ouro Preto, em comemoração aos 320 anos da chegada de Antônio Dias, bandeirante paulista fundador do arraial que deu origem à cidade; 80 anos de tombamento, pela Unesco; e 280 anos do nascimento de Aleijadinho, patrono das artes brasileiras, um de seus filhos mais ilustres.
Duas rodas de conversa, uma com a homenageada Maria Gladys e outra com o músico Tom Zé, lotaram o Hall de Convivência do Centro de Convenções. O futebol, paixão, também teve destaque do evento. Para a estreia do Brasil na Copa do Mundo, foi criada uma programação especial, com intervenção artística, apresentação de DJ e, é claro, muita animação.
MOVIMENTAÇÃO REGIONAL
A movimentação gerada pela CineOP impacta positivamente no dia a dia de Ouro Preto, com o aquecimento do comércio e da economia local, além do benefício direto trazido para as escolas e estudantes. Outro movimento importante, que trará ganhos não só para a cidade e a população, mas também para a cultura e histórica nacional, reforçando a preocupação do evento com a preservação, foi o anúncio sobre a revitalização do Cine Vila Rica. Por meio de uma parceria entre a Universo Produção, o Governo de Minas Gerais e a Universidade Federal de Ouro Preto, o cinema, um dos mais antigos da América Latina, será reformado. O cronograma de execução será divulgado em breve.
ESTRUTURA
A expressividade da CineOP também está representada pela infraestrutura montada para a realização do evento, que ocupa três espaços da cidade: o Cine Vila Rica (plateia de 700 lugares), Centro de Artes e Convenções (sede do evento, cine-teatro, auditórios, Sesc Cine Lounge Show, ações de formação e reflexão) e Praça Tiradentes (Cine BNDES na Praça), palco de acontecimentos sociais, culturais e históricos localizada no coração da cidade, com a instalação de 1000 lugares. A CineOP contou com a cobertura jornalística de 42 veículos de imprensa, representados por 54 jornalistas. Foram credenciados nove hotéis e pousadas e nove restaurantes.