Desde 2022 a CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte adota a América Latina como seu eixo de discussão e exibição. O ano de 2023 foi ainda mais especial porque os filmes brasileiros foram inteiramente integrados às mostras Território e Continente. A força dessa decisão tomada pela curadoria vem de o Brasil assumir, no âmbito do evento, sua condição de país latino-americano, sem subterfúgios nem desvios. Os espectadores sentiram o impacto e puderam conhecer uma cartela inédita de longas e curtas-metragens que apresentaram novos imaginários do continente a partir das vivências, experiências e provocações dos realizadores de diversos países representados. O efeito se expandiu nos debates e rodas de conversa, que tiveram de base a temática do ano, “Territórios da Latinidade”, e o convívio entre público, realizadores, críticos e convidados durante os seis dias de festival.

 

Curadora da CineBH, a professora e pesquisadora Ester Fér pontua que historicamente existe dificuldade de diálogo entre o Brasil e outros países latino-americanos, seja por diferenças de dialetos e idiomas, seja por processos distintos de formação da indústria cultural em cada nação. “Ainda persiste a ideia de que uma obra cinematográfica precisa sair para outros países e depois voltar ao seu território e então ser reconhecida. Mas é importante fortalecer os laços dentro do continente, assumindo e entendendo nossas diferenças e aproximações no território ampliado que é a América Latina”. Ester se refere especialmente à internacionalização do cinema latino, algo muito buscado por realizadores que encontra um mercado principalmente europeu em busca de alguns estereótipos e convenções já um tanto saturados.

 

Foi para evitar essa saturação que Cléber Eduardo, coordenador curatorial da CineBH, adotou como desafio da seleção identificar o que seriam os “tipos” mais bem-aceitos em filmes latinos nos grandes festivais e oferecer propostas distintas a isso. “Tive a intuição de que uma camada de filmes latino-americanos não estava tendo circulação nos principais festivais de cinema no mundo. A minha primeira interrogação é se existiam determinados caminhos para se chegar aos festivais que estariam impedindo essa camada de avançar”, comenta. “Não é que a CineBH esteja exibindo filmes obscursos ou desconhecidos, pelo contrário, vários dos títulos são premiados ou tiveram exibições em grandes eventos, como Berlim, Biarritz, Cinéma du Réel (França), Veneza... Mas eles estão seguindo caminhos menos badalados que outros e nos interessava olhar para esses filmes com mais atenção”.

 

Até para aumentar esses destaques, a 17a CineBH criou pela primeira vez uma mostra competitiva, com a presença de dois júris: um oficial, integrado por cineastas, produtores e professores; e um júri da crítica, organizado pela Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Eles avaliaram longas-metragens da Mostra Território, que tinha títulos do Chile, Peru, Argentina, Cuba, Colômbia e Brasil. “A tendência para os próximos anos é de que a CineBH se consolide num lugar de referência para o audiovisual latino, que dá atenção a filmes menos badalados do continente”, reforça Cléber.

 

A 17a CineBH também foi espaço de celebração a Rafael Conde e Yara de Novaes, dois artistas de Minas Gerais cujas trajetórias várias vezes se cruzaram, ao mesmo tempo em que seguiram autonomamente ao longo dos últimos 25 anos. A dupla foi homenageada pela Mostra e teve parte de suas obras exibida durante o festival. “Recebo como um tributo a todos os técnicos e artistas que trabalharam com a gente nesses anos todos. O cinema brasileiro é uma coisa muito especial, ele é único e muito bonito”, disse Conde. Por sua vez, Yara, que começou a carreira no teatro, exaltou os palcos como um espaço de encontros e o quanto ampliar essa experiência para o cinema mudou os rumos de sua trajetória. “Não vamos desistir nunca das possibilidades de encontro que a arte nos proporciona, mesmo que volta e meia alguém apareça para tentar nos silenciar”, disse ela.

 

POLÍTICAS PÚBLICAS

As mesas de conversa da 17a CineBH e do 14o Brasil CineMundi foram espaço de muita discussão sobre os rumos do audiovisual brasileiro a curto e médio prazo, principalmente em relação às recentes reivindicações do setor sobre a regulamentação das plataformas de streaming, dos serviços de VOD (video on demand) e da cota de tela para produções do país. Diversas autoridades do poder público, representantes de instituições e associações e profissionais da cadeia produtiva estiveram à frente de uma série de encontros e debates, com concordâncias e discordâncias de ideias que indicam o quanto o setor está efervescente e atento aos caminhos vindouros.

 

Durante a Mostra, a secretária do Audiovisual, Joelma Gonzaga, anunciou em primeira mão duas novas iniciativas do governo federal para fomento de atividades internacionais voltadas ao cinema brasileiro. Duas linhas de financiamento vão ser lançadas no dia 6 de outubro. Uma são bolsas de estudo para brasileiros em formação na Escuela Internacional de Cine y Television de San Antonio de los Baños, em Cuba. O edital, previsto para ser fluxo contínuo ao longo dos anos, permitirá propostas de manutenção de alunos e alunas numa das mais importantes escolas de formação em cinema no mundo. Outra ação da SAV será um edital de financiamento à circulação de filmes brasileiros em festivais no exterior. A secretária também anunciou que o novo e reconfigurado Conselho Superior de Cinema vai tomar posse em breve, o que deve beneficiar as discussões de política pública do setor.

 

Inclusive, em termos de política pública, Joelma Gonzaga foi incisiva na defesa do direito patrimonial e da propriedade intelectual aos produtores brasileiros em contratos com plataformas de streaming. “Esses direitos são inegociáveis e vamos defendê-los dentro de um marco regulatório. Também vamos propor uma cota de catálogo nas plataformas, para que produções brasileiras tenham destaque nas buscas; ações afirmativas; obrigação de investimento direto das plataformas em produção brasileira; e transparência na apresentação de dados e evidências métricas de consumo para sabermos os efeitos das políticas públicas e da movimentação do setor”, enumerou a secretária.

 

De fato, uma das fragilidades da atual forma de contratação de produções brasileiras para suprir plataformas virtuais é a discrepância entre o valor artístico e profissional e o que as empresas estão dispostas a pagar e a exigir. Além disso, muito se comentou na CineBH da falta de transparência de conglomerados como Netflix e Amazon Prime Video, que omitem informações sobre dados, acessos, audiência e outros números importantes para o entendimento do que está sendo financiado e produzido.

 

Fábio Campos Barcelos, assessor da Secretaria de Regulação da Ancine (Agência Nacional do Cinema), diz que essa ausência de dados, chamada de “assimetria da informação”, prejudica o planejamento das políticas públicas, o que, de certa forma, é uma vantagem às empresas. “A Ancine fez um levantamento de 59 plataformas, que não é a totalidade das que existem no país. A partir dessa pesquisa, constatamos que a média de produção brasileira em streamings estrangeiros, como Netflix, HBO e Amazon, fica em torno de 5%”, disse ele.

 

O assessor frisou que regulamentar atividades das plataformas de conteúdo audiovisual não deve ser temido nem considerado uma guerra entre dois lados, e sim uma forma de “qualificar o bem cultural como algo que repercute na sociedade e que precisa ser protegido e incentivado por nós, cidadãos e cidadãs”. Durante a CineBH, ele apresentou diversos números de países da Europa que se utilizam de regulamentação pública dos VODs e streaming e o quanto isso é benéfico à economia criativa e aos direitos dos trabalhadores do setor.

 

O projeto de lei que tramita no Senado Federal, de autoria do senador Humberto Costa (PT), também foi comentado nas conversas durante a CineBH, inclusive através de um vídeo enviado por Costa. Ele destacou que o Brasil tem 65% de pessoas que assistem a plataformas de streaming com regularidade e que a segunda maior base de assinantes da gigante Netflix é aqui no país. “Tudo isso acontece num limbo e na ausência de regulação a essas empresas de mídia, que não seguem as mesmas regras que os canais de TV”, disse o senador. “Meu projeto é pautado em quatro eixos: contribuição das empresas, estímulo ao consumo de títulos brasileiros, regulação de empresas estrangeiras e estímulo à diversidade e regionalização. É um projeto que enfrenta muita pressão contrária das grandes corporações”.

 

Essas conversas fizeram da CineBH um fórum essencial de discussão sobre os avanços dos marcos regulatórios para o setor audiovisual, ao mesmo tempo em que os encontros entre coprodutores durante o Brasil CineMundi preparavam o caminho para os filmes do futuro que podem se beneficiar de possíveis novos rumos do meio. Diversos produtores comentaram o quanto seus filmes têm trajetórias exemplares no exterior e sofrem com dificuldades de exibição no Brasil, o que se deve à ausência de algumas definições que dependem do poder público, como é na França, Bélgica, Coreia do Sul e Itália, entre outros países citados. A CineBH se reforça, assim, como passagem essencial no rumo desses encaminhamentos, entendendo-se como parte de um processo amplo e complexo e que tem em seus espaços, na tela e fora dela, a presença latino-americana em foco. Que venha mais.

 

SOBRE A 17ª CINEBH – MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE BELO HORIZONTE

O CINEMA BRASILEIRO EM CONEXÃO COM O MERCADO INTERNACIONAL E A CAPITAL MINEIRA


A CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, o evento de cinema da capital mineira, chega a sua 17ª edição entre os dias 26 de setembro e 1º de outubro de 2023. O evento promove a conexão entre o cinema brasileiro e o mercado internacional e se apresenta como instrumento de formação, reflexão, exibição e difusão do audiovisual em diálogo com outros países.

A CineBH prevê em sua programação a oferta de atividades oferecidas gratuitamente ao público: exibições de filmes nacionais e internacionais, pré-estreias e mostras retrospectivas, programa de formação com a oferta de oficinas, workshops, laboratórios, masterclasses, debates e painéis, promoção do fomento ao empreendedorismo, dissemina a informação, produz e difunde conhecimento, cria oportunidades de rede contatos e negócios, reúne a cadeia produtiva do audiovisual numa programação abrangente e gratuita.

***

A 17ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte e o 14º Brasil CineMundi integram o Cinema sem Fronteiras 2023 – programa internacional de audiovisual idealizado pela Universo Produção e que reúne também a Mostra de Cinema de Tiradentes (centrada na produção contemporânea, em janeiro) e a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto (que difunde o audiovisual como patrimônio e ferramenta de educação, em junho).

Link para fotos

https://www.flickr.com/photos/universoproducao/

 

Acompanhe o programa Cinema Sem Fronteiras 2023.

Participe da Campanha #EufaçoaMostra

Na Web: www.brasilcinemundi.com.br / www.cinebh.com.br / www.universoproducao.com.br

No Instagram: @universoproducao

No Youtube: Universo Produção

No Twitter: @universoprod

No Facebook: brasilcinemundi/cinebh / universoproducao

No LinkedIn: universo-produção

Informações pelo telefone: (31) 3282-2366

Site oficial do evento: WWW.CINEBH.COM.BR

 

SERVIÇO

17a CINEBH - MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE BELO HORIZONTE

26 de setembro a 1º de outubro de 2023

 

LEI FEDERAL DE INCENTIVO À CULTURA

LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA

ESTE EVENTO É REALIZADO COM RECURSOS DA LEI MUNICIPAL DE INCENTIVO À CULTURA DE BELO HORIZONTE

Patrocínio: ITAÚ, MATER DEI, PREFEITURA DE BH, COPASA, CEMIG/GOVERNO DE MINAS GERAIS

Parceria Cultural: SESC EM MINAS, CASA DA MOSTRA E CIRCUITO DA LIBERDADE/FUNDAÇÃO CLOVIS SALGADO/GOVERNO DE MINAS GERAIS

 

Idealização e realização: UNIVERSO PRODUÇÃO

SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA E TURISMO DE MINAS GERAIS  
MINISTÉRIO DA CULTURA | GOVERNO FEDERAL – UNIÃO E RECONSTRUÇÃO