Mostra de Cinema de Ouro Preto, que acontece de 13 a 18 de junho, vai reunir profissionais da educação para debater o lugar da escola pública no mundo de hoje e as formas de relacionar o cinema ao processo de ensino; o espanhol Jorge Larrossa e as uruguaias Cecilia Cirillo e Cecilia Etcheverry (Programa Cineduca)são alguns dos destaques internacionais da programação
A escola pública entendida como memória do futuro: este é o eixo conceitual da Temática Educaçãona 13aCineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, que serárealizada de 13 a 18 de junho. Em 2018, celebra-se uma década do Fórum da Rede KINO (Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual), que anualmente reúne na cidade histórica mineira, profissionais da educação e interessados em participar das diversas atividades oferecidas durante a promoção do Encontro da Educação. Este ano, o Fórum da Rede Kino vai exaltar o ambiente escolar público. Em meio a insistentes desqualificações da escola, especialmente nos últimos anos, com o recrudescimento de políticas conservadoras e neoliberais no Brasil, a curadoria da Temática Educação quer dedicar espaço e tempo para pensar, valorizar e identificar a escola pública no que ela tem de mais fundamental.
Para a curadora Adriana Fresquet, junto ao curador assistente Geraldo Pereira, a ideia é criar um contexto de reflexão durante a CineOP no qual essencialmente os próprios professores e estudantes possam reencontrar a escola como lugar privilegiado às novas gerações. “Queremos orientar e exercitar a atenção e desenvolver formas de cuidado e amor por esse ambiente. Sentimos a urgência de olhar para a escola, seus atores, sua forma, suas operações e sua linguagem de um modo afirmativo, reconhecendo que, se ela ainda tem elementos que permanecem longe da obsolescência desde sua invenção, podemos hoje estar diante de um fenômeno de natureza específica que, como o belo, tem algo de eterno e de efêmero”, afirma Fresquet.
Ela defende que, diante das violências sofridas na educação brasileira recentemente, a escola “necessita ser protegida das ambições do mercado, dos rankings das avaliações nacionais e internacionais, dos jogos e pressões dos grupos de empresários que arquitetam o fim do ensino público em todos seus níveis”.
A programação de debates e exibições de filmes da Mostra Educação da 13ª CineOPcolocam em evidência o conceito e a noção de “memória do futuro”, a importância da escola como algo que conserva, cuida e produz memória a cada segundo, num presente ativo, ao mesmo tempo antecipando o futuro, imaginando-o, sonhando o mundo que quer habitar como gesto de invenção. “Acreditamos que a escola, como nenhum outro espaço/tempo, tem poderosa capacidade de guardar a história no ato de atualizar nosso tempo rumo a um presente comprometido com a atenção, o amor e o cuidado ao outro”, completa Fresquet.
A presença do convidado internacional Jorge Larrosa está em sintonia com os objetivos da Temática Educação deste ano. Larrosa é professor de Filosofia da Educação na Universidade de Barcelona, com pós-doutorado em Paris e Londres e autor de vários livros publicados na Espanha, Argentina, Colômbia, México, Venezuela, França e Brasil. Tem desenvolvido uma contundente reflexão a partir da escola, assunto sobre o qual vai abordar no workshop que vai ministrar durante a13ª CineOP denominado “Revelação da Escola”, em que enfocará o cinema e arte como procedimentos para “revelar” ou “colocar na presença” a materialidade da escola (seus espaços, tempos, objetos, atividades, assuntos, gestos). “É uma proposição de entendermos ‘a forma’ da escola”, explica Adriana Fresquet.
Na 13aCineOP, a escola se relaciona com o cinema como gesto de história e preservação. O audiovisual se torna possibilidade sensível de atenção com o que se deseja conhecer ou se inventar. Diz a curadora: “Segundo Pier Paolo Pasolini, fazer um filme nos obriga a olhar as coisas. O olhar de um literato sobre uma paisagem, campestre ou urbana, pode excluir uma infinidade de coisas, recortando do conjunto só as que o emocionam lhe servem. Já o olhar de um cineasta não pode deixar de tomar consciência de todas as coisas que ali se encontram, quase enumerando-as. Enquanto para o literato as coisas estão destinadas a se converter em palavras, para o cineasta as coisas continuam sendo coisas”. Nas exibições da Mostra Educação, uma novidade em 2018 é que os filmes incluem agora trabalhos audiovisuais de estudantes, professores e cineastas.
Integra também a programação do Encontro da Educação: X Fórum da Rede Kino, debates que enfocamas relações do audiovisual com a educação. A mesa“Cinema e Educação: A Escola no Cinema”, vai reunir representantes de projetos bem-sucedidos que atuam na formação, na reflexão crítica e criativa inserindo a escola no cinema. Entre eles o Programa Cineduca (Uruguai) que contará com as presenças internacionais Cecilia Etcheverry e Cecilia Cirillo, respectivamente coordenadora pedagógica e coordenadora técnica do Cineduca, o Janela Indiscreta (Bahia) e o Programa de Alfabetização Audiovisual(Rio Grande do Sul).
Outras mesas da 13ª CineOP vão discutir questões a partir de imagens que relacionam o presente com o passado de diferentes projetos audiovisuais educativos, como “Um plano, uma aula”, que reunirá o cineasta brasileiro Cristiano Burlan e o professor espanhol Jorge Larrosa; e “Cadê a escola que estava aí?”, na qual diversos professores conversam sobre a urgente necessidade de revalorização da escola pública no Brasil. Por fim, em 2018, seguirão os debates sobre a potência da lei 13006-14, cuja proposta de regulamentação entregue há dois anos continua parada no Conselho Nacional de Educação.