Críticos e pesquisadores analisam os rumos da produção a partir de 1998; nas sessões, Mostra Aurora, Bendita e Olhos Livres são destaques
Nesta sexta-feira, dia 27, a 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes promove o encontro “Cinema brasileiro em duas décadas: 1998-2017”, revisando um período marcado pela continuidade crescente da produção, mas também por mudanças cíclicas de estilos e propostas narrativas. Na mesa estarão presentes João Luiz Vieira, professor; Luiz Carlos Merten, crítico; e Sheila Schvarzman, historiadora e professora. A mediação é de Cléber Eduardo, curador do evento desde 2007. Começa às 15h, no Cine Teatro Sesi.
Pela manhã, o Encontro com a Crítica, Diretor e Público realiza três mesas: sobre Modo de Produção, com o convidado Inácio Araujo, às 10h; outra sobre Histórias que Nosso Cinema (não) Contava, com a presença de Sheila Schvarzman, às 11h15; e uma a respeito de Subybaya, comentado por Guiomar Ramos, às 12h30.
As sessões de cinema iniciam às 16h30, no Cine Tenda, com a Mostra Panorama, exibindo três curtas-metragens. A partir das 18h, uma sequência de quatro longas-metragens dão seguimento no mesmo local: na Mostra Olhos Livres, Guerra do Paraguay, do veterano Luiz Rosemberg Filho; às 20h, na Mostra Aurora, Corpo Delito, de Pedro Rocha; e às 22h30 tem Eu não Sou Daqui, outro da Aurora, dirigido por Luiz Felipe Fernandes e Alexandre Baxter; e à 0h, no Cine Tenda, pela Sessão Bendita, Terra e Luz, dirigido por Renné França. Completando as sessões do dia, às 21h, O Jabuti e a Anta estará no Cine BNDES na Praça.
No Sesc Cine Lounge, logo depois da Sessão Bendita, acontece a apresentação do Coletivo A.N.A – Amostra Nua de Mulheres, iniciativa pioneira de oito jovens cantautoras, surgido a partir do desejo de incentivar e revelar a crescente cena de compositoras de Minas Gerais.
ROGER KOZA E MANOEL RANGEL
Na tarde de quarta-feira, o crítico argentino Roger Koza esteve numa conversa no Seminário do Cinema Brasileiro, no Cine Teatro Sesi. Programador de diversos festivais, ele comentou ficar impressionado de como determinados filmes brasileiros de perfil autoral são constantemente ignorados nos grandes circuitos. Tendo visto em Tiradentes, em anos anteriores, trabalhos como Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós, e Mais do que Possa me Reconhecer, de Allan Ribeiro, ele vem tentando emplacar alguns desses trabalhos em eventos audiovisuais.
“Existe uma visão prévia do cinema brasileiro que esses filmes não contemplam, mas a mim é incompreensível que eles fiquem invisíveis aos olhares de alguns grandes festivais do mundo”, disse. Em 2017, ele revelou ter ficado impressionado com Baronesa, da mineira Juliana Antunes, que concorre ao Aurora, e que vai ficar atento à sua circulação. “Existe uma estética da sordidez nos filmes sobre violência na América Latina. Baronesa lida com isso”.
Para ele, muito do frescor destes filmes se deve à total liberdade com que os realizadores fazem seus trabalhos, sem se adequarem a esquemas de produção oficial que lhes exigiriam adequação a formatos ou conceitos prévios. “Estes filmes não passam num pitching, eles são feitos por uma lógica própria e por isso são tão diferentes”.
Na tarde de quarta-feira, o presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema), Manoel Rangel, participou de um bate-papo no Cine Teatro Sesi. Em seus últimos meses de mandato no governo, Rangel fez um detalhado balanço de sua gestão na última década, retomando desde a criação da Ancine, em setembro de 2001, até as conquistas do período em que ele esteve à frente do órgão federal. “É um organismo do poder público para o desenvolvimento do cinema e do audiovisual brasileiro, com uma visão expandida do setor”, resumiu.
Entre números e projetos, Rangel relembrou o Plano de Diretrizes e Metas, que estabeleceu uma série de exigências a serem cumpridas para um bom andamento da Ancine e centralizar as ações. “É preciso assegurar que a produção audiovisual brasileira tenha centralidade na ocupação do mercado”, afirmou.
O Fundo Setorial do Audiovisual foi apontado como fruto de intensa e “muitas vezes árdua” negociação no Congresso e acabou se tornando referência na inserção de dezenas de novos filmes e na regionalização da produção. “Foram investidos nos últimos anos em mais de 400 filmes e em centenas de séries de tv. A política pública do audiovisual existe”.
Rangel defendeu que as conquistas da Ancine e o prestígio do órgão dentro do governo federal se deve ao audiovisual ser visto como política de Estado, e não de governo. Perguntado por um participante do debate quais as perspectivas a partir de maio, quando Rangel deve se desligar da Ancine e um nome mais vinculado à atual Presidência da República deve assumir. “Eu estou seguro porque eu acredito em vocês”, respondeu, apontando a plateia.
“Acredito na classe de cinema, acredito nas pessoas. Tenho certeza de que vocês não deixarão perder essas conquistas. A política pública do audiovisual foi pactuada em todas as frentes e entre todos os partidos”. Ele exaltou a necessidade futura de duas frentes de trabalho: o marco regulatório dos conteúdos de vídeo sob demanda e uma legislação e regulamentação para as empresas de videogames.