Abertura acontece no dia 4, às 19h30, em cinema instalado no pátio do Arquivo Nacional; programação gratuita vai até 13 de dezembro, no Rio de Janeiro e em Niterói, e marca o início das comemorações de 180 anos de fundação da entidade

Os registros de família e a construção da sociedade carioca ganharão as telas de cinema a partir desta segunda, 4 de dezembro, com a terceira edição do Arquivo em Cartaz – Festival Internacional de Cinema de Arquivo, que este ano será norteado pelo tema “Filmes de família, cinema doméstico e amador”. A abertura oficial acontece às 19h30, no Arquivo Nacional (Praça da República, 173), patrimônio arquitetônico localizado no centro do Rio de Janeiro. O local receberá um cinema ao ar livre com plateia de 400 lugares. Com programação inteiramente gratuita, o evento marca o início das comemorações de 180 anos de fundação do Arquivo Nacional.

A temática escolhida para 2017 joga luz sobre um tipo específico de registro, raramente reproduzido, mas com características fundamentais para a compreensão de determinada época e lugar. O assunto vem conquistando relevância em todo o mundo, tanto que ganhou uma data: o Home Movie Day. Comemorado internacionalmente em 21 de outubro, tem como objetivo celebrar e exibir filmes amadores, além de discutir sua preservação.

“O mote do Arquivo em Cartaz 2017 se insere nesse contexto de iniciativas nacionais e internacionais de resgate de filmes de família, caseiros e amadores, contribuindo para o debate sobre a preservação e difusão desses materiais, e promovendo um encontro com essas imagens produzidas em ambiente íntimo e pessoal, dando destaque ao discuti-las e projeção ao exibi-las em uma tela de cinema”, explica o curador, Antônio Laurindo.

HOMENAGENS

A cerimônia de abertura marcará a entrega do Troféu Batoque para os homenageados desta edição: o historiador, pesquisador, produtor cultural e realizador de filmes e vídeos Clovis Molinari Jr. e o Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro (CPCB), representado na oportunidade por sua presidente, a jornalista Myrna Brandão.

Clovis Molinari Jr. é uma referência no registro da história brasileira. Entusiasta da Super-8, levava o equipamento onde quer que fosse, com a consciência de que filmar era um ato político. Fazia parte do grupo dos “superoitistas”, os documentaristas de plantão, atentos aos acontecimentos políticos da cidade do Rio de Janeiro. Esta postura, aliada à consciência sobre a importância da preservação e à sensibilidade de seu olhar, tornaram possível, por exemplo, o registro do incêndio do MAM, em 1978, episódio que trouxe perdas irreparáveis para a cultura nacional e internacional.

Já o CPCB, fundado em 1978, tem como maior compromisso a valorização e a preservação do cinema nacional, sendo responsável, inclusive, por supervisionar a restauração de clássicos do cinema brasileiro já seriamente comprometidos e ameaçados de perda. O Centro realiza inúmeros projetos fundamentais para a cinematografia do país, como análises e estudos que contribuíram para a introdução da pesquisa no meio cinematográfico e nas entidades acadêmicas, resultando inclusive na criação das primeiras escolas de cinema no Brasil.

“Com 40 anos de fundação, o CPCB é uma instituição de pesquisa que resiste ao tempo e responsável por restaurar parte fundamental da produção audiovisual brasileira. Clovis Molinari Jr., por sua vez, registrou momentos importantes da nossa história e é um dos maiores colecionadores de filmes domésticos. Nosso objetivo, ao escolher estes nomes e promover este evento, é levar ao público uma parte da trajetória brasileira que estava não só esquecida, mas proibida de ser compartilhada, já que o acesso ao Arquivo Nacional é algo recente. Esta é uma das principais instituições de guarda do país e este acervo, riquíssimo, está agora aberto a todos”, destaca Raquel Hallak, diretora da Universo Produção, responsável pela organização em parceria com o Arquivo Nacional.

EXIBIÇÃO DE FILMES

Serão exibidos seis curtas na noite de abertura. O primeiro deles, “Praia do Flamengo, 132”, dirigido por Clovis Molinari Jr., foi produzido em 1980 e traz imagens do conturbado processo de demolição do imóvel da antiga sede de UNE – União Nacional dos Estudantes, na Praia do Flamengo, RJ. Em 1942, em meio aos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, os estudantes ocuparam o prédio onde funcionava o Clube Germânia. Ainda naquele ano, o presidente Getúlio Vargas formalizou a doação do imóvel para a entidade, que instalou ali o primeiro restaurante estudantil do país.

Na sequência, o momento “O que é que o Arquivo tem?” leva ao público parte do acervo da instituição. O filme produzido especialmente para esta edição do evento é “Um filme para chamar de seu”, dirigido por Ana Moreira. Esta obra foi realizada a partir de breves registros da família Martins e seus amigos em cenas filmadas nas cidades do RJ e Paty do Alferes, possivelmente no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, contribuindo assim para reconstrução da história, memória, pessoas e costumes de uma época.

Na Mostra Acervos, realizada em parceria com outras instituições de guarda, entram em cartaz “Família Camargo Fernandes”, de 1929, que pertence ao Centro Técnico Audiovisual do Ministério da Cultura (CTAv/SAV/MinC); “[Família Alberto de Sampaio]”, de 1929-1930, da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM);  “Família Carlos Chagas Filho: Cenas do Cotidiano”,  da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz; e o mexicano “El Hombre Araña Contra Los Rateros”, de 1978, que integra as coleções do Arquivo Memória da Cineteca Nacional de México.

180 ANOS DO ARQUIVO NACIONAL

O Arquivo em Cartaz marca o início das comemorações oficiais de 180 anos de fundação do Arquivo Nacional, instituição criada em 2 de janeiro de 1838. Ele nasceu como Arquivo Público do Império, conforme previsto na constituição de 1824, com a finalidade de guardar os documentos públicos. Ao longo de quase dois séculos da história do Brasil, se consolidou como a principal instituição arquivística do país, construindo um papel central na preservação da memória nacional e na administração pública federal.  

A instituição conserva, em sua sede, no Rio de Janeiro e em sua Coordenação Regional no Distrito Federal, mais de 55 quilômetros de documentos textuais, quase 2 milhões de fotografias e negativos, além de milhares de arquivos, que incluem filmes, álbuns fotográficos, diapositivos, caricaturas e charges, cartazes, cartões postais, desenhos, gravuras e ilustrações, mapas, registros sonoros e uma coleção de livros raros.

LANÇAMENTO DE REVISTA E EXPOSIÇÕES

Na oportunidade, também terá o lançamento da 3a edição da revista Arquivo em Cartaz, que tem como proposta principal trazer reflexões, artigos e ensaios inéditos sobre a preservação do patrimônio cinematográfico mundial e a memória do cinema brasileiro. Com textos de pesquisadores, acadêmicos, profissionais e personalidades do universo audiovisual, a obra dará um destaque especial aos homenageados e temas abordados no evento. A revista estará disponível online pelo site do Arquivo Nacional (www.arquivonacional.gov.br).

O evento conta ainda com duas exposições: Itinerários Indígenas e a videoinstalação Memórias Afetivas, que oferece a oportunidade de resgatar memórias afetivas por meio da digitalização de fitas VHS e da exibição dos registros em uma videoinstalação durante o festival. A iniciativa, inédita, conta com o envolvimento do público, que poderá entregar seus vídeos caseiros no local para digitalização (inscrições já esgotadas).