Evento, focado no resgate da memória audiovisual brasileira, promoverá ainda homenagens ao cineasta Clóvis Molinari Jr. e ao Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro

Uma parte menos conhecida da história do Brasil ganhará projeção durante o 3º Arquivo em Cartaz – Festival Internacional de Cinema de Arquivo, que acontece entre os dias 4 e 13 de dezembro, no Rio de Janeiro e em Niterói. O evento, que será norteado pelo tema “Os filmes de família, caseiros e amadores”, mostrará a construção da sociedade e da memória brasileira, a partir da exibição de filmes feitos em ambientes privados. A programação, inteiramente gratuita, será composta por 78 títulos, entre curtas, médias e longas-metragens, além de oficinas, máster class e debates.

 Realizado pelo Arquivo Nacional em parceria com a Universo Produção, o evento tem como objetivo promover a difusão do patrimônio audiovisual, contribuindo para a preservação e recuperação da memória cinematográfica brasileira. Seu principal intuito é divulgar e incentivar a realização de filmes produzidos com imagens de arquivo, exibir películas restauradas e raras, além de oferecer oficinas dedicadas à preservação e tratamento de arquivos cinematográficos, como uma ferramenta de indiscutível importância na salvaguarda da memória audiovisual brasileira. O evento ocupa dois espaços: Arquivo Nacional (Cine Pátio – 400 lugares e Cine-Teatro – 150 lugares), na cidade do Rio de Janeiro; e Cine Arte UFF (290 lugares), em Niterói.

 De acordo com a diretora da Universo Produção, Raquel Hallak, o fortalecimento do evento contribui não só para a recuperação da memória individual, mas também da memória coletiva. “O patrimônio audiovisual é muito rico e, durante muitos anos, não teve a atenção merecida. Milhares de imagens, captadas em ambiente doméstico, foram esquecidas em arquivos e cinematecas. São registros singulares, que ajudam a contar a nossa história. Ao adotar este tema em 2017, o Arquivo em Cartaz busca fazer esta correção, ajudando a construir o futuro a partir do olhar ao passado”, afirma.

 “O tema do Arquivo em Cartaz 2017 se insere no contexto internacional de diferentes iniciativas de resgate de filmes de família, caseiros e amadores e contribui para o debate sobre a preservação e difusão desses materiais. De acordo com o Center for Home Movies (Estados Unidos da América), filmes caseiros já fazem parte da Film Preservation List da Library of Congress(Estados Unidos da América). Em 2006, por exemplo, as imagens de um cineasta amador, mostrando a relação afetuosa de um pai e seu filho com síndrome de Down, passaram a integrar a lista juntamente com Fargo (1996), longa-metragem dos consagrados irmãos Coen”, explica o curador da mostra, Antônio Laurindo.

 HOMENAGEM

 A terceira edição do Arquivo em Cartaz promoverá duas homenagens fundamentais para a memória do cinema brasileiro. A primeira será para o cineasta e pesquisador Clóvis Molinari Jr., também servidor do Arquivo Nacional desde 1979. É dele a direção de fotografia de filmes como Cacos (1974), que mostras aspectos da cidade do Rio de Janeiro em tempos de construção do Metrô.Entre 1978 e 1984, documentou, sempre em formato Super-8, no Rio de Janeiro, fatos marcantes como o incêndio do Museu de Arte Moderna em 1978; a eleição de Brizola para o Governo do Estado em 1982; a Campanha das Diretas Já em 1984; etc.Entre 1981 e 1982, produziu, dirigiu, fotografou e montou diversos filmes nessa bitola, alguns em parceria com Ricardo Favilla.

A segunda homenagem será feita ao Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro (CPCB), fundado em 1970, com o objetivo de estimular a pesquisa e a preservação fílmica nacional, e presidida hoje pela crítica, pesquisadora e jornalista Myrna Silveira Brandão. A entidade é responsável pela restauração de pérolas do cinema brasileiro, como “O Homem que Virou Suco”, de João Batista de Andrade, que teve sua restauração concluída em 2006 e será exibida no Arquivo em Cartaz.

 MOSTRAS TEMÁTICAS

 Além da Mostra Homenagem, a programação do Arquivo em Cartaz conta com oito mostras temáticas: Cinema no Pátio, Mostra Competitiva Cinema de Arquivo, Mostra Competitiva Oficina Lanterna Mágica, Mostra Acervos, Mostra Arquivo Faz Escola, Mostra Arquivos do Amanhã, Mostra Arquivo N, Sessão Temática.

 A Mostra Competitiva do Arquivo em Cartaz, aberta a todos os gêneros, do documentário à ficção, passando pelo cinema experimental, pretende ser instrumento de reflexão sobre as múltiplas possibilidades de (re)utilização dos arquivos de filmes. As únicas exigências aos inscritos foram a presença mínima de 30% de material de arquivo (imagens em movimento, áudio, fotografias, mapas, manuscritos etc.). Os vencedores da competitiva serão agraciados com o Prêmio Batoque.

 Na Mostra Acervos, o foco principal é a preservação e difusão de acervos filmográficos e da memória do cinema. Dessa maneira, o evento traz uma seleção de filmes sob guarda de instituições científicas, educacionais, arquivísticas, com o objetivo de aproximar o público dos acervos, contribuindo para a difusão de filmes antigos, películas restauradas, material recém-disponibilizado ao público. Pretende também chamar a atenção para acervos não-oficiais e a importância de dar-lhes visibilidade.

 As sessões da Mostra Arquivo faz Escola têm por objetivo chamar a atenção do público escolar para a importância da preservação da memória cinematográfica, assim como promover a utilização do cinema como uma ferramenta de aprendizado e despertar o interesse pela produção nacional. Os filmes propostos pela organização do evento buscam despertar no público infanto-juvenil o interesse pelo cinema nacional, incentivando a curiosidade e ampliando suas possibilidades cinematográficas, exibindo obras às quais não tenham tão fácil acesso.

 Já na Mostra Arquivos do Amanhã serão exibidos filmes produzidos por crianças e adolescentes, selecionados entre os inscritos na categoria.O objetivo da mostra é incentivar registros a partir do ponto de vista de jovens que documentem fatos, lugares e tradições significativas de seu tempo e sirvam de memória para os arquivos futuros.