Programação intensa contou com roda de conversa, debates e sessões de cinema; neste sábado, um dos destaques será o cineasta americano Bill Morrison, que ministra master class sobre o documentário Dawson City – Tempo Congelado

Após uma emocionante abertura, realizada na noite de quinta (14), a CineOP deu início a uma intensa programação. A largada desta sexta-feira (15) aconteceu com o debate “Vanguarda tropical: o cinema e as outras artes”, que uniu os três eixos do evento – Histórica, Preservação e Educação. O professor Celso Favaretto colocou o ano de 1967 como um marco brasileiro nas manifestações artísticas, quando foram apresentados “O Rei da Vela” (Zé Celso) no teatro, “Terra em Transe” (Glauber Rocha) no cinema, “Tropicália” nas artes plásticas (Helio Oiticica) e na música (Caetano Veloso), entre outros. “Estas obras traziam signos emblemáticos da resistência ao regime militar, apresentavam a novidade moderna e diluíam todo tipo de referência que escapasse ao simples consumo da indústria cultural", afirmou Favaretto.

 O professor João Luiz Vieira avançou pelos dois anos adiante: apontou 1968 como o ano em que “um contexto que sinalizava a passagem para estratégias de agressão e estéticas de choque e desconforto” nas artes e 1969 como o ano em que uma série de filmes brasileiros série de filmes brasileiros “trabalhavam com a disrupção e agressão estética, que vai culminar com a radicalidade do Cinema Marginal, na ostentação do mau gosto e da estética do vômito literal e metafórico, num clima de histeria radical”.

 A fala de João Luiz se conectou ao comentário da professora Guiomar Ramos, que, no debate da tarde “Fronteiras do experimental”, apresentou uma breve genealogia da presença da vanguarda em filmes brasileiros, tais como “A Família do Barulho”, de Bressane, e “O Ano de 1798”, de Arthur Omar. “São produções que iam na contramão de qualquer aspecto institucional”.

 A sexta-feira também marcou o pré-lançamento do livro “Nova História do Cinema Brasileiro: Novos Enfoques, Materiais e Perspectivas”, organizado por Sheila Schvarzman e Fernão Pessoa Ramos. Em dois volumes, a publicação - que teve prévia exclusiva mostrada na CineOP - contém dezenas de artigos que reestruturam a historiografia da produção audiovisual brasileira a partir de uma variação até então distinta de  pontos de vista, com ênfase em aspectos pouco estudados, como gênero, raça, documentário e trabalhos fora da indústria mais convencional.

 MARIA GLADYS CONVERSOU COM O PÚBLICO NESTA TARDE

Num descontraído bate-papo no Centro de Convenções de Ouro Preto, na sexta-feira (15/6), a atriz Maria Gladys, homenageada deste ano na CineOP, contou histórias de sua juventude suburbana no Rio de Janeiro, o interesse e envolvimento com as artes e como chegou à televisão e ao cinema. Ao lado do amigo e velho companheiro de trabalho Neville D’Almeida, Gladys riu, brincou, performou e se divertiu com o público que encheu o hall para acompanhar a Roda de Conversa.

 Gladys contou detalhes de produção de filmes como “Sem Essa, Aranha”, de Rogério Sganzerla, e “Os Fuzis”, de Ruy Guerra, nos quais teve interpretações livres que marcaram para sempre a singularidade de sua presença nas telas de cinema. “Era um tempo em que a gente pegava o carro, encontrava algum lugar e parava para fazer uma cena. Não tinha nada preparado”, comentou.

 A atriz relembrou que, depois de se destacar como a principal personagem feminina de “Os Fuzis”, exibido em 1964 no Festival de Berlim, ficou quatro anos sem ser chamada para participar de algum filme. “Fiz apenas teatro nessa época, ninguém me convidava pra filmar, não entendi o que aconteceu”. Ela foi redescoberta pela geração dos “marginais”, especialmente Rogério, Neville e Julio Bressane, que a convocaram para uma sequência marcante de filmes entre o final dos anos 1960 e meados dos 70.

 BILL MORRISON É UM DOS DESTAQUES DESTE SÁBADO

A partir das 11h deste sábado (15/6), o Cortejo da Arte sai da Praça Tiradentes e percorre a cidade para comemorar datas muito especiais: os 280 anos do nascimento de Aleijadinho, os 320 anos de Ouro Preto e os 80 anos de seu tombamento como Patrimônio da Humanidade. Estarão na festa o Bloco do Zé Pereira, Cia Estandarte, Coletivo Calanga, Turma do Pipoca, Guarda de Moçambique Santa Efigênia e tantos mais.

 Na programação da 13ª CineOP, no Seminário, os trabalhos começam às 9h30, no auditório I, com a masterclass do convidado internacional Bill Morrison. O multiartista norte-americano fala sobre seu processo de criação, as pesquisas de material histórico e a relação com arquivos audiovisuais. O encontro terá mediação da curadora da Temática Preservação, Ines Aisengart Menezes.

 Em simultâneo, às 9h30, no auditório II, o Encontro da Educação reúne Cecília Cirillo (Programa Cineduca de Uruguai), Cecília Etcheverry (Programa Cineduca de Uruguai), Inês Teixeira (10 anos da Rede Kino - MG), Maria Angélica (10 anos do Programa de Alfabetização Audiovisual - RS) e Milene Gusmão (25 anos do Janela Indiscreta - BA), com mediação de Juliana Costa, coordenadora da Rede Kino. O tema da conversa será a escola no cinema como possibilidade sensível de reflexão crítica e criativa.

 As fronteiras do patrimônio audiovisual, tema central da 13ª CineOP, estará no debate internacional às 14h30 “Formação, produção e preservação no âmbito universitário”, no auditório I, com a presença de Rafael de Luna Freire (Coordenador do Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual - LUPA da UFF), Juana Suarez (Diretora do Moving Image Archiving and Preservation Program MIAP/ NYU, EUA), Howard Besser (Diretor do Moving Image Archiving and Preservation Program MIAP/ NYU, EUA) e Humberto Neiva (Coordenador do curso de Cinema da Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP | SP), com mediação de Marília Franco, integrante do CPCB (Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro). A proposta é discutir, a partir de diferentes experiências nacionais e estrangeiras, a formação de novos preservadores a partir do ensino universitário e das disciplinas acadêmicas dedicadas ao assunto.

 Já no auditório II, também às 14h30, a mesa “Cadê a escola que estava aí?” reúne Karen Rechia (Professora da UFSC | SC), Maximiliano López (Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFJF | MG) e Solange Stecz (Doutora em educação e professora da UNESPAR | PR), com mediação de Cezar Migliorin, professor da UFF. O encontro parte da constatação de que é urgente defender a escola pública e levanta as questões: como? O que é efetivamente escolar? Em que medida o cinema pode contribuir para o reconhecimento da escola como tempo livre e espaço público?

 Às 16h, o músico Tom Zé participa de uma roda de conversa sobre sua vivência no tropicalismo, a carreira e sua trajetória dentro de um movimento no qual ele é uma das principais referências. O encontro acontece no hall do Centro de Convenções.

 Na Temática Histórica, às 16h45, a vanguarda tropical volta à mesa no debate do auditório II “Potências e limites de um conceito”, com o cineasta Carlos Adriano (SP), o pesquisador Ewerton Belico (MG) e a pesquisadora Pérola Mathias (RJ), sob mediação de Lila Foster. A conversa trata da antropofagia e do tropicalismo como pontos de diapasão que reúnem parte significativa das vanguardas brasileiras, reunindo concretistas, marginais (do cinema) e outros artistas transgressores.

 Ainda às 16h45, no auditório I, o Encontro de Arquivos conta com o workshop da convidada internacional Céline Ruivo, diretora e curadora da Cinemateca Francesa e coordenadora da Comissão Técnica da Fiaf (International Federation of Film Archives). Ela vai tratar de sua experiência numa federação de arquivos e o trabalho de suporte e orientação para materiais audiovisuais de todo o mundo.

 NOS CINEMAS

As exibições de filme no sábado da CineOP começam às 16h30, no Cine Vila Rica, com a sessão especial de “Arábia”, produção mineira filmada em Ouro Preto e dirigida por Affonso Uchôa e João Dumans. Às 17h, no Cine-Teatro, a Mostra Educação apresenta o documentário “Abecedário de Educação com Jorge Larrosa - O de Ofício do Professor”, com direção de Adriana Fresquet, curadora da Temática Educação, e que trata das ideias de um dos convidados internacionais da CineOP, Jorge Larrosa, filósofo e professor que está na cidade.

 No Cine Vila Rica, as sessões continuam às 18h30, com a Mostra Preservação, que este ano exibe o Acervo Capixaba, composto por cinco curtas-metragens de Orlando Bomfim, Netto, cuja obra está sendo resgatada e discutida durante a mostra. Às 19h45, na mesma sala, a Mostra Histórica exibe seis curtas-metragens da temática deste ano, “Vanguarda Tropical”, com títulos de Rogério Sganzerla, Katia Maciel, Antonio Carlos da Fontoura, Arthur Omar, Ivan Cardoso e Carlos Adriano.  

 Em seguida, às 21h15, acontece a pré-estreia de “Quebranto”, novo longa-metragem do mineiro José Sette e com a homenageada da CineOP, Maria Gladys, no elenco. Por fim, às 22h45, a Mostra Contemporânea reúne cinco curtas-metragens de produção recente: “El Meraya” (Gustavo Jahn & Melissa Dullius), “O Olho e o Espírito” (Amanda Beça), “Praça XV” (Claudio Tammela), “Terra Não Dita, Mar Não Visto” (Lia Letícia) e “Antes do Lembrar” (Luciana Mazeto, Vinicius Lopes).

 No Cine-Praça, às 20h30, passa “Adoniran - Meu Nome é João Rubinato”, documentário sobre Adoniran Barbosa dirigido por Pedro Serrano.

 A programação artística completa a noite a partir das 22h, no Centro de Convenções, com a Noite Tropicália 3, que conta com apresentação do DJ Braz Mitchell, da Fabulosa Banda Dionisíaca dos Libertinos e o aguardado show de Tom Zé.