Emoção e lágrimas marcaram a homenagem a Maria Gladys na cerimônia de abertura da 13ª Mostra de Cinema de Ouro Preto, na noite de quinta-feira (14/6).

A atriz carioca recebeu o Troféu Vila Rica em tributo a seus quase 60 anos de carreira no teatro, cinema e televisão. Ao lado de velhos companheiros de vida e trabalho, como os cineastas Geraldo Veloso e Neville D’Almeida – que vieram especialmente para a celebração –, Gladys agradeceu os aplausos da imensa plateia que lotava o Cine Vila Rica.

“Quando perguntam a minha idade, prefiro dizer que eu venho de uma geração. E a minha geração é de tanta gente incrível, de tanta gente inteligente”, disse ela. “Olho para o meu currículo, pros trabalhos que eu fiz, e percebo que sou uma atriz muito brasileira. Nunca fiz, nem no teatro, textos de autores estrangeiros. Antes eu não gostava disso, mas hoje entendi a importância de ser o que eu sou”.

Gladys enumerou nomes com quem trabalhou e com quem tanto aprendeu, como Julio Bressane, Neville D’Almeida (que a elogiou, no palco, como sendo “a representação de um Brasil inquieto, um Brasil esfomeado, alegre, que quer sempre se manifestar”), Rogério Sganzerla e Paulo César Saraceni. Acompanhada da filha, ela relembrou momentos de sua vida artística e pessoal, como o período em que se exilou por conta da ditadura e o prazer de sempre se identificar com a invenção e a criatividade dos artistas com quem conviveu. “Convivi com muita gente de talento, com muitos gênios. Eles sempre foram meus amigos”, disse. Ao descer do palco, Gladys dançou e celebrou com o público ao som de “Eu quero é botar meu bloco na rua”, música de Sérgio Sampaio.

A abertura contou com uma performance audiovisual, com direção de Chico de Paula e Grazi Medrado, trilha ao vivo de Barulhista e participação do cantor Marcelo Veronez. Na tela e no palco, sons, imagens e movimentos corporais apresentaram as temáticas deste ano na CineOP: na Histórica, “Vanguarda Tropical: O Cinema e as Outras Artes”; na Educação, “Escolas: Memórias do Futuro”; e na Preservação, “Fronteiras do Patrimônio Audiovisual”.

Em sua fala de abertura, a coordenadora geral da Mostra de Cinema de Ouro Preto, Raquel Hallak, comentou o projeto de revitalização do Cine Vila Rica, previsto para ser realizado numa parceria entre o governo de Minas Gerais, a Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) e a Universo Produção.

PROGRAMAÇÃO SEGUE INTENSA NESTA SEXTA

A homenagem à atriz Maria Gladys segue nesta sexta, 15 de junho, com o “Encontro de Cinema – Roda de Conversa”, na qual a homenageada falará sobre seu percurso artístico. O bate-papo, realizado por meio da parceria cultural com o Sesc em Minas, pretende apresentar o panorama da trajetória pessoal e artística da artista, suas escolhas, opiniões e atuações em diferentes épocas e produções. A conversa, que também terá participação do cineasta Neville d’Almeida e mediação do crítico Marcelo Miranda, acontece às 12h, no Hall de Convivência do Centro de Artes e Convenções.

Um pouco antes, às 10h, acontece o debate inaugural do 13º Seminário do Cinema Brasileiro: Fatos e Memória, no Auditório do Centro de Convenções. O encontro terá como enfoque o tema central: “Vanguarda Tropical: O cinema e as outras artes” - o que 1968 representou como mudança de paradigma na arte brasileira? No centro deste debate, os professores Celso Favaretto (SP), Ivana Bentes (RJ) e João Luiz Vieira, professor titular da UFF (RJ).

Às 14h30, será realizado o debate “Fronteiras do Experimental: História, cinema e outras artes”. Para discutir como organizar uma história do experimental brasileiro e qual é o horizonte da radicalidade inventiva no Brasil, participarão da mesa a artista e pesquisadora Katia Maciel (RJ); a pesquisadora e documentarista Guiomar Ramos (RJ) e o crítico de cinema, curador e cineasta Tiago Mata Machado (MG). O crítico de cinema e curador da Temática Histórica, Francis Vogner dos Reis (SP), será responsável pela mediação.

Às 17h, acontece o debate Nova história do cinema brasileiro: Novos enfoques, materiais e perspectiva”, seguido do lançamento do livro de mesmo nome, organizado pelos professores Sheila Scharzman (SP) e Fernão Ramos. Nesta coletânea, uma série de textos de pesquisadores e especialistas traça um panorama atualizado e detalhado do cinema brasileiro. O bate-papo será mediado pelo crítico de cinema José Geraldo Couto (SC) e contará com a presença da organizadora e dos autores Guiomar Ramos (RJ), João Luiz Vieira (RJ) e Luciano Ramos(SP).

As sessões Cine-Escola, exclusivas para as escolas previamente cadastradas, acontecem a partir das 8h30. As demais, abertas ao público, começam às 16h30, com a Mostra Educação, no Cine-Teatro, com uma intensa série de trabalhos produzidos em todo o país por educadores, estudantes e cineastas no contexto escolar e espaços não formais de ensino. Já a segunda sessão, às 18h, conta com dois médias-metragens: “Teoria da Escola”, de Maximiliano Valerio López, e “Elogio da Escola”, dirigido por alunos e professores da Escola de Bordils (Espanha).

Às 18h30, na Mostra Histórica, cinco curtas-metragens, no Cine Vila Rica, representam a Temática Histórica: “Light Work” (Iole de Freitas), “Lua Diana” (Mário Cravo Neto), “X” (Anna Maria Maiolino), “Triunfo Hermético” (Rubens Gerchman) e “Vera Cruz” (Rosangela Rennó).

Às 20h, ainda no Cine Vila Rica, será exibido o longa-metragem “Dawson City: Tempo Congelado”, do convidado internacional Bill Morrison (EUA). O documentário apresenta a história de uma coleção de 533 filmes dos anos 1910 e 20 que ficaram perdidos por 50 anos até serem descobertos numa profunda piscina do Ártico. Morrison, que está em Ouro Preto, vai apresentar a sessão.

Fechando a noite no Cine Vila Rica, a Mostra Histórica apresenta, às 22h15, “O Demiurgo”, dirigido pelo músico Jorge Mautner, que define o próprio filme como “uma fábula-musical-chanchada-filosófica que retrata muita coisa, em primeiro lugar a saudade do Brasil”.

Mais cedo, às 20h30, a Mostra Contemporânea acontece no Cine-Praça com a exibição de “Nada (Gabriel Martins), “Travessia” (Safira Moreira), “La Mer” (Louise Belmonte), “Filme-Catástrofe” (Gustavo Vinagre) e “Que Tal a Vida, Camaradas?” (Luis Felipe Labaki).

Já na programação artística, o Sesc Cine Lounge Show abre as portas para o DJ Carou, a partir das 22h. O músico Felipe Cordeiro sobe ao palco na sequência, com um repertório cheio de lirismo, balanço e originalidade, misturando a tropicalidade latino-americana e a música pop brasileira. A banda Os Libertos fecha a noite, trazendo canções que remetem à raiz tradicional afro-brasileira, com arranjos que mesclam diferentes momentos da MPB e apresentam um caldeirão de expressões estéticas frutos da diversidade cultural do solo americano.