Integra a programação da 13a CineBH, que acontece entre os dias 17 e 22 de setembro, a Mostra A Cidade em Movimento que chega a sua quarta edição apresentando 24 filmes, entre curtas e médias-metragens, e promove Rodas de Conversa com profissionais e pesquisadores

Em sua quarta edição, A Cidade em Movimento volta a ocupar as telas de Belo Horizonte no contexto da programação da 13a CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte. A seção faz parte de uma iniciativa da Universo Produção implantada em 2016 para estimular a exibição, reflexão e discussão de produções audiovisuais feitas na capital mineira e que tratem da vivência e experiência de estar e ocupar a cidade e sua região metropolitana. Os filmes selecionados constituem registro e acervo fundamentais para o entendimento do espaço urbano contemporâneo e seus personagens

Desde o primeiro ano, a pesquisadora e ativista Paula Kimo faz a curadoria de A Cidade em Movimento. “Escolher esses filmes é, antes mesmo de pensá-los como obras cinematográficas, escutá-los como conversas de uma cidade, percebê-los em sintonia às questões intrínsecas à vida metropolitana e também observá-los nas fissuras e bordas de onde tentam escancarar”, afirma ela. “Fazer essa curadoria é conceber os filmes como gestos artísticos e políticos fundados num cotidiano muito próximo de todos nós, mas que nem por isso nos parece comum ou habitual”.

As sessões ocorrem entre os dias 18 e 22 de setembro, às 19h (quarta a sábado) e às 18h (domingo), no Cine Sesc Palladium. A proposta do conjunto de filmes da mostra A Cidade em Movimento é explicitar como o cinema “conversa” com uma Belo Horizonte que coloca em debate temas do seu cotidiano, relacionando audiovisual e política numa relação qualificada sobre potências e fragilidades. “A mostra propõe uma proximidade que causa estranhamento, ao mesmo tempo em que apresenta um distanciamento que pode se reconfigurar a partir do dispositivo do cinema e suas conversações”, analisa a curadora. As Rodas de Conversa acontecem após as sessões e buscam potencializar essas relações, abrindo caminho para que os espectadores e realizadores compartilhem da energia que emana das imagens exibidas.

O recorte de A Cidade em Movimento em 2019 conta com 24 títulos, entre curtas e médias-metragens, divididos em cinco sessões temáticas, todas acompanhadas por Rodas de Conversa com convidadas especiais depois das exibições. A sessão 1 se intitula “Trabalho e vida na cidade contemporânea” e propõe filmes que tratam de como a cidade molda as formas de vida a partir dos empregos e funções que reservam a seus moradores. Entre os filmes, estão “Cabeça de Rua”, de Angélica Lourenço, sobre uma lavadora de carros diante da possibilidade de conseguir um emprego formal; “Obreiras”, de Ana França, Gabriela Albuquerque e Isadora Fachardo, que documenta quatro mulheres da construção civil; e “Eu Estou Vivo”, de Maíra Campos e Michel Ramos, ficção sobre confinamento e relações interpessoais feitas por novas formas de comunicação. Para a Roda de Conversa, foi convidada Juliana Benício, advogada do Coletivo Margarida Alves.

Na sessão 2, “Por uma natureza que constitui a cidade”, os filmes transitam pelas relações entre a cidade e seus bens naturais e humanos e questiona o que sobrevive e re-existe em meio ao avanço do concreto, à discriminação étnico-racial, ao retrocesso político e aos crimes e atrocidades ambientais praticados em nome do desenvolvimento urbano. Serão apresentados “Semeador Urbano”, de Cardes Monção Amâncio, contando uma história de resistência ao avanço da metrópole; “Mineiras”, de Mari Moraga, que reinterpreta o painel “Civilização Mineira”, de Candido Portinari; “60 Dias-luz”, de Tobias Trotta e Victor Carvalhais, que resgata manifestações políticas ocorridas recentemente em Belo Horizonte; “Lacrimosa”, de Sávio Leite, tematizando o drama dos incêndios; e “Naô Xohã”, de Angohó Pataxó, Luís Oliveira e Jéssica Dionisio, tratando dos assassinatos de indígenas na capital mineira. Na Roda de Conversa estará Avelin Buniaka, militante do movimento indígena.

A terceira sessão se chama “Corpo, experiência e militância” e prioriza trabalhos que tratam dos sentidos da sexualidade numa sociedade que determina padrões de comportamento e experiência com o corpo alheio. Na programação estão “Fixação”, de Kellen Casara, que mergulha numa letra de música; “Carinho”, de Pedro Estrada, sobre a autodescoberta da sexualidade de um jovem atravessado pelos arquétipos de masculinidade; “Capital Nua”, de Tobias Trotta e Victor Carvalhais, que vai ao cenário dos filmes pornôs em Belo Horizonte; e “Eu, Tu, Nós”, de Matheus Mello, sobre o histórico do movimento LGBT no Brasil. A atriz Idylla Silmarovi é a convidada da Roda de Conversa.

A sessão 4 se chama “Contra o genocídio da juventude brasileira”, com filmes sobre modos de vida de uma geração oprimida que resiste à dinâmica de controle, desigualdade e exclusão impostas pela sociedade brasileira em âmbitos de família, escola, comunidade e cidade. Estão na seleção “Eu Brinco de Bonecas”, de Clebin Quirino e Raissa Silva, sobre menina que adentra a adolescência mantendo as brincadeiras de infância; “Visões”, de Raissa Silva, Marcele Lana, Thamyres Monique e Pamela Cristina, feito numa oficina audiovisual na comunidade de Vila Maria e que conta uma lenda a assombrar estudantes no banheiro das escolas; “Escrituras Escolares-Sentidos Ocultos”, de Luciene Araujo, que organiza poeticamente um conjunto de inscrições, gestos e memórias do universo escolar e da relação professor-aluno; “Impermeável Pavio Curto”, de Higor Gomes, no qual uma adolescente tem problemas na escola e na família; “Chuá de Maloqueiro”, de Hugo Graciano e Pedro pj, e “Maloca”, de Hugo Graciano, Pedro PJ, Izabela Carolinne, que tentam chegar a uma experiência cotidiana de jovens em situação de rua; “Pelos – Fausto de Gueto”, de Arthur B. Senra e Robert Frank, que mostra um jovem negro no dia a dia de uma cidade segregada e policialesca; e “Trovoada”, de Renan Eduardo, que aborda os instantes finais da vida de seu personagem. Na Roda de Conversa, participa a cineasta Pabline Santana.

Por fim, a sessão 5 tem a temática “Retrato de cidade”, com filmes que relacionam o espaço urbano a outras manifestações da arte e da política. Serão exibidos “Minha Raiz”, de Labibe Araujo, com Belo Horizonte como espaço de performance e intervenção política contra o racismo; “Da Janela”, de Luciano Correia, que busca contrastes ao filme em casas, janelas e apartamentos; “Diz que é Verdade”, de Claryssa Almeida e Pedro Estrada, que mostra o cotidiano de duas pessoas numa noite de videokê; e “Entre Amazonas e Tupis”, de Luiza Garcia, que documenta a atividade do Bar do Nonô, tradicional boteco no centro da capital. Na Roda de Conversa está a antropóloga Rosália Diogo.

A programação da Mostra "A Cidade em Movimento" acontece no Sesc Palladium, principal equipamento cultural do Sesc em Belo Horizonte, parceiro do evento. A Gerente de Cultura do Sesc em Minas, Janaína Cunha destaca "no Sesc em Minas, a cultura tem papel importante na promoção do bem-estar e qualidade de vida dos trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo. Nesse sentido, oferecer à sociedade uma política cultural que também se preocupa em firmar parcerias com projetos importantes para a cidade, como a Mostra CineBH é um dos caminhos pelos quais o Sesc acredita, firmemente, ser possível contribuir para a transformação social dos sujeitos, presente na missão da instituição. Neste caso, estamos valorizando a produção de cineastas mineiros com a Mostra Cidade em Movimento, outra premissa do Sesc que é dar destaque ao que é produzido no estado”, afirma.