. Destaque também para o início da Mostra Foco. Na terça acontece a roda de conversa sobre mulheres negras na direção de filmes
Acontece nesta segunda, 22 de janeiro, a primeira sessão da Mostra Aurora. A competitiva tem início com a exibição de “Madrigal para um poeta vivo”, de Adriana Barbosa e Bruno Mello Castanho, às 19h45, no Cine-Tenda. Até sexta-feira, 26 de janeiro, outras seis produções serão exibidas. O vencedor, que será agraciado com o Troféu Barroco e receberá prêmios de parceiros, será conhecido na cerimônia de encerramento, no sábado, 27, a partir das 22h.
Outro destaque desta segunda é a abertura da Mostra Foco. Os curtas que compõem a seleção concorrem ao prêmio do Júri da Crítica. A sessão, com início às 22h30, no Cine-Tenda, conta com “Estamos todos aqui”, de Chico Santos e Rafael Mellim; “Iara”, de Erika Santos e Cássio Pereira dos Santos; “Peito Vazio”, de Yuri Lins e Leon Sampaio; e “Outras”, de Ana Julia Travia. A competitiva segue até quarta.
Seguem ainda em exibição da Mostra Panorama, às 16h30, com “Inocentes”, de Douglas Soares; “Olho e Espírito”, de Amanda Beça; “O tamanho da pedra”, de Hélio Fróes; e “Aqui de volta”, de Gabriel Papaléo; e a Mostra Olhos Livres, com a pré-estreia de “Inaudito”, de Gregorio Gananian, às 18h. Ambas no Cine-Tenda.
À noite, acontece a sessão de Curtas na Praça, às 21h. No mesmo horário, será realizada a roda de conversa “Cinema e Literatura na Multitela”, com os autores Fernando Bonassi e Marçal Aquino e o diretor José Eduardo Belmonte. Eles serão mediados pelo crítico Rodrigo Fonseca, no Sesc Cine-Lounge. Na sequência, a cantora Dona Jandira sobe ao palco do evento.
A programação desta segunda conta ainda com a realização dos debates sobre “Fernando” e “Bandeira de Retalhos”, aguardada produção de Sérgio Ricardo, que teve exibição neste domingo. Já a temática do evento entra em cena com o debate “Chamado Realista: Questão de Enfoque, de materiais e de postura”, às 15h, no Cine-Teatro.
Programação de terça
A terça-feira na 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes segue com a exibição de filmes sob o recorte da temática central deste ano, Chamado Realista. Às 15h, no Cine-Teatro Sesi, acontece a pré-estreia nacional de “Apto 420”, de Dellani Lima, que segue as agruras de um jornalista pró-maconha que decide escrever um almanaque antiproibicionista. Logo em seguida, o diretor participa de um bate-papo com o público, sob mediação do curador Cléber Eduardo.
A outra sessão do Chamado Realista, às 16h30 no Cine-Tenda, reúne quatro curtas-metragens: “Mamata”, de Marcus Curvelo, “Peripatético”, de Jessica Queiroz, “Borá”, de Angelo Defanti, e “Universo Preto Paralelo”, de Rubens Passaro.
Na Mostra Olhos Livre, ocorrerá a exibição de “Navios de Terra”, de Simone Cortezão, às 18h, no Cine-Tenda. O longa-metragem de ficção segue Rômulo, ex-minerador e agora marinheiro que, na imensidão do mar, conhece outros viajantes e encontra as memórias e o espírito da terra. Já a Mostra Aurora, às 20h, terá a projeção de “Imo”, de Bruna Schelb Corrêa, que apresenta três mulheres retiradas de seus cotidianos e transportadas a um mundo onírico regido por suas memórias.
No Cine BNDES na Praça, a noite será dedicada aos curtas-metragens, com a exibição, às 21h, de quatro títulos: “Carneiro de Ouro”, de Dácia Ibiapina, “Quem Perdeu o Telhado em Troca Recebe as Estrelas”, de Henrique Zanoni, “Nova Iorque”, de Leo Tabosa, e “Você Conhece Derréis?”, de Veruza Guedes. Mais curtas seguem noite adentro, às 22h30, com a segunda série da Mostra Foco, que reúne “Calma”, de Rafael Simões, “Sr. Raposo”, de Daniel Nolasco, e “A Retirada para um Coração Bruto”, de Marco Antônio Pereira.
Nas atividades complementares, o Seminário do Cinema Brasileiro promove três Encontros com os Filmes, a partir das 10h, no Cine-Teatro Sesi. Serão debatidos “Inaudito” (com o crítico Fabian Cantieri), “Madrigal para um Poeta Vivo” (com a crítica Laís Ferreira) e os curtas da Mostra Foco I.
Fechando a programação da terça-feira, à noite, no Sesc Cine-Lounge, às 21h, a Mostra promove uma roda de conversa sobre “A mulher negra na direção de cinema no Brasil”, com as presenças de Ana Julia Travia (diretora do curta “Outras”) e de Bárbara Maria (diretora do curta “Pele de Monstro”) e mediação de Juliano Gomes. A programação de terça se encerra no mesmo local, à meia-noite, com a apresentação do Coletivo Negras Autoras.
Retrospectiva: Vozes entre a ficção e o real
No domingo, dia 21, durante o Seminário, as atrizes Aline Brune (BA) e Patrícia Saravy (PR) se destacaram no debate conceitual “O corpo e a fala realista nas interpretações”, ao exporem seus processos de trabalho e suas inquietações nos filmes em que atuaram. Brune, uma das protagonistas do longa de abertura da Mostra, “Café com Canela”, disse que morava há poucos anos na cidade onde a produção foi realizada (Cachoeira) e inicialmente se inibiu em interpretar uma moradora típica do local – e, vinda das artes visuais, temia a inexperiência em atuação. “Usei as minhas vivências em Salvador e os sete anos em que morava em Cachoeira para compor a Violeta”, contou.
Patrícia Saravy passou por processo semelhante, ao encarnar a personagem central do curta-metragem “Tentei”. Ela vive uma mulher abusada física e sexualmente pelo marido. “Tinha uma responsabilidade muito grande em representar essa pessoa”, destacou. “A primeira coisa foi assumir que meu corpo seria o dessa mulher, a Glória. Depois de chegar ao conhecimento de quem e como ela ia ser, precisei encontrar uma construção técnica para interpretá-la”. Saravy diz ter seguido as orientações da diretora, Laís Melo, construindo em conjunto o silêncio e as atitudes corporais e psicológicas de Glória. O papel tem lhe rendido prêmios em festivais de cinema.
Também neste debate, o diretor René Guerra – do curta “Vaca Profana” e um dos realizadores mais atentos à representação queer no recente cinema brasileiro – falou de seu fascínio em se dedicar ao universo de atrizes e personagens transexuais como uma espécie de missão cultural. Ele destacou a importância de dar atenção ao que participantes de um projeto trazem de suas realidades pessoais. “A palavra de um texto num roteiro não pode estar acima da vivência que o ator ou a atriz levam para o trabalho. As vozes e as diferenças precisam ser ouvidas”.
Algo parecido disse o cineasta Adirley Queirós no bate-papo sobre “Era uma Vez Brasília”. Ele frisou o quanto as narrativas precisam ser construídas na pluralidade e que os acessos aos meios de produção, apesar de democráticos por conta das novas tecnologias, ainda determinam quem constrói os discursos. “Os personagens do meu filme não fazem parte das instituições, não estão organizados politicamente. Quem pode narrar a nossa história hoje? Quem tem o poder de produção? Isso é algo que precisa ser pensado o tempo todo, porque muita gente fica querendo ensinar a periferia a fazer um monte de coisa, em vez de quererem também aprender um pouco com o que nós fazemos”, disse Adirley.
O cineasta, que já ganhou a Mostra Aurora em 2011 com “A Cidade é uma Só?”, exaltou o papel do Estado na liberdade de seus projetos. “Tentei fazer uma etnografia da ficção, lançar uma ficção pros atores e documentar de que forma ela ia aparecer. Só o Estado te dá a liberdade de você fazer um filme do jeito que você quer. O mercado, como é hoje, nunca deixaria a gente filmar os trabalhos que fazemos. Só precisamos agora ver como vai ficar daqui pra frente”.
TODA PROGRAMAÇÃO É OFERECIDA GRATUITAMENTE AO PÚBLICO.
Foto: Rogério Che