Noite revelará também os escolhidos pelo júri popular e a ganhadora do Prêmio Helena Ignez; longa “A moça do calendário” encerra a programação de filmes, no Cine-Tenda
O último dia da 21a Mostra de Cinema de Tiradentes, neste sábado, traz, na forma de bate-papo, um balanço da programação e dos filmes apresentados no evento. Às 15h, na mesa “Chamado realista: Cinema brasileiro contemporâneo”, os críticos Cecília Barroso, Luiz Carlos Merten e Raul Arthuso falam sobre as principais questões formais levantadas pelos longas e curtas este ano e de que maneira as abordagens de seus universos se distinguem entre si e no atual cenário de realização. A mediação será do curador Francis Vogner dos Reis.
A programação, entretanto, tem início mais cedo. A partir das 10h, acontecem os últimos Encontros com os Filmes deste ano, discutindo “Antes do Fim”, com a presença da crítica Luciana Corrêa de Araújo; “Lembro Mais dos Corvos”, com Denilson Lopes; e “Rebento”, com Ela Bittencourt.
Para as crianças, a dica é a Mostrinha de Cinema, que traz cinco curtas para toda a família no Cine-Tenda, a partir das 10h30. Na sequência, às 12h30, o encerramento das oficinas realizadas durante o evento contará com a entrega de certificados e apresentação dos curtas produzidos pelos participantes.
Às 15h, tem a Sessão Jovem no mesmo local, com três curtas: “Secundas”, de Cacá Nazario, “Na Esquina da Minha Rua Favorita com a Tua”, de Alice Name-Bomtempo, e “Desfragmento”, de Helena Lukianski e Giuliana Heberle.
Dedicada a novos realizadores, a Mostra Formação 2, reúne, às 18h no Cine-Teatro Sesi, “Meu Nome é Coraci”, de Adan Sousa, “Regresso”, de Rafael Dornellas, “Raiz”, de Andressa Matias Carvalho, e “Ainda Não”, de Júlia Leite.
A mostra Chamado Realista tem programação dupla. Às 18h, no Cine-Tenda, será exibido o longa “Nóis por Nóis”, de Aly Muritiba e Jandir Santin, que trata dos movimentos culturais na periferia de Curitiba. Logo após a sessão, às 20h, no Sesc Cine-Lounge, o diretor Jandir Santin e a atriz Ma Ry participam de um bate-papo com o público sobre “Realismo e dramaturgia: como construir uma nova imagem da juventude periférica”. Realizada numa parceria cultural com o Sesc, a conversa pretende discutir as relações entre processo de criação e a contribuição criativa dos jovens atores que compõem o elenco do filme.
No Cine BNDES na Praça, às 20h, o evento promove a Mostra Valores, com a exibição do curta “Descubra #Tiradentes300anos”, produzido pela Universo Produção com participação de moradores, turistas e público em geral sobre o aniversário da cidade. Às 20h30, a programação na praça se encerra com o documentário “Torquato Neto – Todas as Horas do Fim”, de Eduardo Ades e Marcus Fernando, em que a trajetória do poeta piauiense é recontada por alguns de seus amigos mais próximos.
O longa-metragem “A Moça do Calendário”, de Helena Ignez, será o filme de encerramento da Mostra, no Cine-Tenda, às 20h. Com roteiro de Rogério Sganzerla, conta a história de Inácio, ex-gari que trabalha como dublê de dançarino e mecânico da oficina Barato da Pesada. Diariamente ele sonha com a moça do calendário, até não saber mais diferenciar os devaneios e a realidade. Helena Ignez também nomeia um prêmio especial que será dado pelo Júri da Crítica a alguma profissional feminina que tenha participado dos filmes na Mostra Aurora.
Logo em seguida ao filme, às 22h30, no Cine-Tenda, acontece a cerimônia oficial de encerramento, com anúncio dos vencedores, premiações do Júri da Crítica (Troféu Barroco e Prêmio Helena Ignez), Júri Jovem (Troféu Carlos Reichenbach) e Júri Popular (Troféu Barroco).
ARTE
A programação artística, realizada por meio de parceria cultural com o Sesc, contempla atividades para o público de todas as idades. A Cia. do Liquidificador se apresenta duas vezes, às 11h30 e às 14h, no Cine BNDES na Praça. No Sesc Cine-Lounge, a atração será a apresentação dos músicos Sérgio Pererê e Barulhista, a partir das 0h45.
RETROSPECTIVA: DRAMAS URBANOS
A sexta-feira contou com Encontros com os Filmes que expandiram a experiência dos longas-metragens exibidos na Mostra de Tiradentes na noite anterior, sempre com o Cine-Teatro Sesi bastante cheio. Sobre “Dias Vazios”, o diretor, Robney Bruno Almeida, falou sobre a escolha de filmar uma história juvenil de melancolia e perda na cidade de interior goiano de Silvânia e que sua vontade era captar o espírito do romance de André de Leones, que inspirou o roteiro.
“O projeto demorou para ser feito devido à dificuldade de produzir em Goiás”, disse Robney, que participa pela primeira vez da Aurora. Ele trabalhou com jovens atores que se dispuseram a encarnar papéis difíceis e complexos. “A questão dos atores serem naturalistas foi um processo, meu com eles e deles comigo, e isso aparece na tela”.
No caso de “Baixo Centro”, o codiretor Ewerton Belico definiu o trabalho como “um filme que ataca a desigualdade de classes por meio do viés do racismo”. Para ele, o longa trata “do fracasso do projeto moderno, da cidade como espaço integrador das diferenças”. Samuel Marotta, o outro diretor de “Baixo Centro”, relembrou a nostalgia de uma Belo Horizonte dos anos 1990 que ele, vindo de outra cidade, apenas ouviu falar. “A gente escutava muito sobre como a cidade era ocupada nos anos 90, como o espaço urbano era fundamental. Quando um dos personagens fala disso, de algo que não existe mais, ele traz uma topografia imaginada, e não filmada”.
Belico comentou que foi buscado um estilo de distanciamento que revelasse parte do processo de construção do filme com uma aproximação dos corpos dos atores ao espaço urbano, permitindo relações muito mais afetivas do que causais. “Os personagens monologam uns para os outros, mais do que dialogam. É uma estratégia de distanciamento. O filme foi povoado das emoções daquilo que estava sendo dito”.
TODA PROGRAMAÇÃO É OFERECIDA GRATUITAMENTE AO PÚBLICO.
Foto: Leo Lara/ Universo Produção